Depoimento de uma mulher sem casa
Tenho 3 irmãs, todas filhas do mesmo
pai, eu sou a do meio...a mais nova saiu...depois voltou...depois voltou a sair...mas
nunca aceitou a minha mãe, ou seja o meu pai nunca aceitou dar-me o nome, dizia
que eu não era filha dele. Depois a vida começou a andar muito para o torto e a
minha mãe arranjou um companheiro, depois separou-se dele. Esse companheiro é
que me deu o nome, ele não...os meus pais para todos os efeitos...se não fosse
ele, por acaso também já faleceu, mas para todos os efeitos ele é o meu pai!...
O meu pai verdadeiro, não sei, se
ele vive...não sei nada porque eu não o conheci...só que a minha mãe depois
conheceu aquele senhor que me deu o nome. Faleceu e eu fui criada com outra
pessoa. Não conheci outros pais a não ser mesmo o que me criou, que não é
aquele que me deu o nome...porque como eu não era...
A minha mãe nunca foi feliz,
juntou-se...até pelo menos aos 18,19 anos foi ele que me criou...não conheci
outro pai a não ser mesmo o que me criou...que não é aquele que me deu o nome.
Ter pai ou não ter tido é a mesma
coisa porque ele...como eu não era filha dele dizia para a minha mãe que não
tinha nada que me dar nada porque não era meu pai, então a minha mãe nunca
conseguiu ser feliz e esteve 15 anos…, ele já começou a ser muito idoso e
começou a ter as birras deles como sempre e já não dava para viver com ele, a
minha mãe era mal tratada, ela bebia muito...já por fim nós começamos a ter a
nossa vida porque era-mos maiores de idade e ele não nos deixava sair para lado
nenhum e a gente queria sair com o namorado e ele não deixava e a minha mãe
teve mesmo que o pôr fora de casa. A casa era da minha mãe, casa da câmara era
da minha mãe e automaticamente ele não tinha o nome na casa...aí as coisas...eu
fiquei com a minha mãe, mas as coisas começaram a complicarem-se, a minha irmã
tinha um marido que mandava muito, depois queria mandar na minha mãe e em mim e
trabalhei no fórum...que era um centro que se trabalhava por conta do centro de
emprego, mas era um emprego. Trabalhava todos os dias, todos os dias trabalhava
e ao cabo juntava muitos salários activos, só que a minha mãe começou-me a ir
buscar esse dinheiro, eles em vez de me darem esse dinheiro a mm davam à minha
mãe...tinha uns 18, perto de 18 anos, comecei a trabalhar muito nova...e então
resolvi sair de casa porque a minha mãe queria o dinheiro todo para ele e
começou a tratar-me muito mal, batia-me, chamava-me nomes...nunca fui feliz...e
depois era assim!...
Eu pretendia fazer a minha vida,
pretendia casar, pretendia ter um rapaz do meu lado. eu queria namorar e ele
não deixava, ele entendia que eu tinha que andar debaixo das saias dela e eu
entendia que não...aí, eu conheci um rapaz...conheci um rapaz e depois foi meu
marido (não são casados) e comecei a namorar com ele, na altura ele vivia na
rua...é um rapaz que vivia nas arcadas do Martin Moniz...dormia na rua, só que
depois a minha mãe começou a falar comigo...conheci-o também na rua...estava na
rua...por volta dos 18 anos, comecei a ir à sopa dos pobres e conheci-o lá.
Falei com ele e convidei-o para ir à festa que havia e ele aceitou, foi comigo...só
que depois começou a falar que na rua, não tinha onde dormir, onde comer...e
nessa altura eu já estava prestes a ir para casa da minha mãe e a minha mãe
aceitou-me, queria que eu fosse lá para casa...depois, falei com a minha mãe e
aceitou que ele fosse também, só que depois aí começaram os problemas…a minha
irmã andava a dar em cima do meu marido, aí eu comecei a ver...eu trabalhava,
trabalhei sempre, sempre, sempre. Quando o meu marido me conheceu, estava a
trabalhar no...e a dormir na rua (1 ano) dormia dentro do aeroporto de Lisboa.
Tenho lá testemunhas...tomava duche dentro do aeroporto com água fria...nas
casas de banho para ir para o trabalho e depois comecei...quando conheci o meu
marido...na casa da minha mãe, eu ia trabalhar e ela (irmã) queria que o meu
marido ficasse em casa, aí comecei a topar...aí eu fui, lutei, lutei, sempre a
lutar para que o meu marido viesse para o pé de mim em Lisboa. Sai de casa da minha
mãe e o meu marido veio comigo e começamos novamente a viver dentro do
aeroporto em Lisboa, vivíamos dentro de um carro velho dentro do aeroporto...depois
acabou o meu contracto na....aquilo fechou e eu fui trabalhar para um
hotel...levantar-me do carro no aeroporto. Comecei a trabalhar nesse hotel, só
que esse hotel, as portas eram abertas por um problema de eu não saber ler nem
escrever...Com cartão, eu queria abrir as portas e não conseguia...então eles
mandaram-me embora...aí, comecei a lutar, sempre a lutar junto com o meu marido
sempre, a gente estávamos sempre unidos, sempre naquela força, a lutar a lutar...com
as assistentes sociais.
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