Mulheres - Violência doméstica e relações laborais

Na verdade é estranho ser mulher plena num mundo de mulheres telecomandadas por normas patriarcais. Mesmo as mais atrevidas, vestem-se de vermelho justo e abanam a cabeça sorrindo para o gajo que se pranta de forma ostensiva, quer pelo poder que ocupa na hierarquia social (cargo e/ou dinheiro) quer pela postura, tipo D. Juam, “sou muito bom e tu estás aqui armada em parva a tentar agradar-me!...”

Esta mulher de vermelho pode eventualmente lutar na assembleia da republica pelos direitos de outras mulheres. Vai ao estrangeiro, viaja pelo país, não sei se sempre de vermelho cintado e de sapatos de salto agulha, mas seguramente de forma claramente alinhada com o modelo dominante em que foi criada, vinculada a uma racionalidade e lógica típica dos homens.


Ela consegue demonstrar e provar que uma mulher vitima de violência doméstica, inserida num contexto empresarial não gera lucro ao patrão e que portanto gera despesa, quer à segurança social como à empresa onde trabalha. Devendo os empresários olhar para o problema de outra forma e dar a atenção devida para que essa mulher seja ajudada no contexto empresarial em que se encontra.
Para isso é suposto que as empresas desenvolvam uma cultura de confiança entre as mulheres vitimas de violência doméstica, e que institucionalizem uma entidade, pessoa, que possa mediar a situação no sentido de apoiar/aconselhar a vitima. 
Esta mulher que defende esta relação de confiança entre a entidade patronal e a mulher empregada, acredita realmente no que defende? ou será simplesmente inocente?...

Será que ela não sabe que está a ser conivente com a maior ratoeira para com a mulher vitima de violência? Será que ela não entendeu ainda que o empregador assim que compreender que uma mulher na sua fábrica põe em causa a sua, dele, produtividade/lucro, porque o companheiro a agride, ele rapidamente a despede e põe uma outra que eventualmente até possa esconder também uma situação identica?
Que interessa ao homem e mesmo à mulher empresária aculturada pelo modelo patriarcal este tipo e questões, quando o lucro é o que os move?

Enfim, numa sociedade onde os valores do ter se sobrepõem aos valores do ser, que implicam a dignidade dos seres humanos em geral e das mulheres em particular é impossível lidar com assuntos de extrema relevância para o bem estar das mulheres vitimas de violência de género, com este tipo de argumentos e de postura. Tudo transpira a hipocrisia e mentira e sobretudo a falta de consciência sobre a essência do problema.

Podia tomar uma atitude de fazer que não vejo, nem sinto e não escrever sobre este tipo de manifestações sociais com que me deparo no meu dia a dia e assim ganhava mais tempo e energia, para me debruçar sobre mim mesma, mas somos seres sociais e temos que viver e lidar com estas dimensões. 


Eu sei que tenho um longo caminho de introspeção a fazer e que só o fazendo poderei não só ajudar-me como facilitar o caminho a outras mulheres. Mas também sinto que é importante estar, ouvir, observar e transformar interna e externamente com a energia, com as palavras, com a escrita, com a atitude, a forma como as mulheres e os homens se vêem e se projectam.

Sim, sinto-me sozinha num mundo de homens, sim tenho um corpo e uma mente humana que me impedem de aceder a estruturas mais profundas do meu ser mulher, mas tento no meio desta ambivalência a que nós seres humanos estamos sujeitos viver da melhor forma que sei. Tem sido fácil? não!...tenho sofrido e sofro com esta dualidade? sim!...,
mas que me resta fazer da minha vida senão vivê-la neste corpo e nestas circunstâncias?

AMFM
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