O Universo associativo dos sentimentos associados à vivência da pobreza*
 
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/pobres-ami-pobreza-estudo/1530638-4071.html

 Iremos relacionar a intensidade dos sentimentos associados à vivência da pobreza com o grupo socioeconómico, sexo e idade de modo a clarificar as ideias comuns ou diferenciadoras que emergem aquando da análise. 

Os sentimentos são canais para manifestar emoções positivas ou negativas, e neste caso não existem dúvidas que o universo associativo em relação à vivência da pobreza tem uma imagem predominantemente negativa e os pontos positivos que se encontram nesta vivência relacionam-se com uma dimensão mais direcionada para o(a)s outro(a)s, à semelhança do sentimento de solidariedade.  

Toda a análise foi realizada de acordo com a dimensão pessoal e social dos sentimentos categorizados. Quando se trata de sentimentos, não é possível falar de algo externo ao ser humano, contudo, para facilitar a análise e a comunicação escrita dos dados, identificamos a existência de dois grupos de sentimentos associados à vivência da pobreza:

Grupo A - Com uma vivência interna mais intensa de âmbito pessoal, revelando-se através de sentimentos como o medo, a tristeza, etc.,

Grupo B - Com uma vivência mais externa e inter-relacionada com o âmbito social, manifestada através de sentimentos como a solidariedade, a desigualdade, a injustiça, etc., mais relacionados com os valores da vida em sociedade.

Em termos globais a pobreza é sentida com muito mais intensidade na sua dimensão individual ou pessoal do que social (ver quadro n.º 7 e quadro n.º 8).

A dimensão associativa interna e pessoal da pobreza é de uma grande intensidade e isso é visível pela quantidade e variedade de sentimentos que constam no quadro n.º 7, e em que se torna ainda mais claro o peso que a dimensão pessoal tem quando comparada com a dimensão social (ver quadro n.º 8).

É esta vertente que pensamos importante aprofundar em relação aos efeitos sociais resultantes desta forte dimensão de foro pessoal que reside na vivência da pobreza.

Grupo A - Os sentimentos de âmbito pessoal são constituídos por um grupo de associações com uma vivência predominantemente interna e do foro íntimo de cada um(a), constituem associações mais ou menos intensas o que lhes confere maior ou menor valorização.  

Assim dentro deste grupo A, onde estão expressos os sentimentos de âmbito pessoal, identificaremos quais os sentimentos transversais e os específicos (ver quadro n.º 7).

  • O Medo é um sentimento que embora nunca referido de forma aberta está sempre latente e talvez o mais presente ao longo de todo o estudo. Associado a sentimentos de receio de ficar numa situação de pobreza, manifestações de horror, aflição e degradação. Este sentimento surge com maior intensidade, nos grupos do(a)s reformado(a)s e do(a)s  beneficiário(a)s do RSI.  É mais percetível nas mulheres e nas faixas etárias mais avançadas.
Este sentimento é como uma nuvem escura que cobre o universo associativo não verbal do(a)s entrevistado(a)s. É a representação verbal da pobreza como algo mau, feio e difícil, que importa afastar, por prejudicar e trazer malefícios, que causam horror,

“Acho horrível, é a pior coisa que pode haver. Não termos saúde e sermos pobres” (Ermelinda, entrevista n.º 24, reformada, 66 anos)

 “A pobreza é horrível” (Paula, entrevista n.º6, reformada, 84 anos)

 ·      A Tristeza é um dos sentimentos vividos com mais intensidade por todos os grupos socioeconómicos, embora mais acentuada no grupo do(a)s reformado(a)s e do(a)s beneficiário(a)s do Rendimento Social de Inserção, é menos intensa no grupo do(a)s estudantes, do(a)s empregado(a)s e do(a)s desempregado(a)s,


“Estarmos pobres é um desgosto. A pobreza é muito triste.” (Cristina, entrevista n.º 12, reformada, 67 anos)

“Sinto tristeza, sinto-me a mim mesmo.” (Manuel, entrevista n.º 1, RSI, 52 anos)

É muito triste ver gente que não tem o que comer, que tem fome.” (David, entrevista n.º 49, reformado, 67 anos)

 Muito difícil e é uma tristeza muito grande querer dar aos filhos e não ter para dar” (Raquel, entrevista n.º 36, RSI, 47 anos)

A tristeza está presente no universo associativo de ambos os sexos mas são as mulheres que mais intensamente referem este sentimento em todas as questões colocadas no decorrer da análise. Destaca-se que na pergunta “o que pensa sobre os pobres?”, os homens não referem uma única vez o sentimento de tristeza,

A pobreza é uma tristeza(Ana, entrevista n.º 3, RSI, 45 anos)

“É das coisas mais tristes (Daniela, entrevista n.º 32, desempregada com subsídio 51 anos)
 “Destroçada, eu me coloco na história dele (…)” (Sílvia, entrevista n.º 22, empregada, 40 anos)

   
A tristeza é mais verbalizada pelas faixas etárias acima dos 35 anos de idade.,

“Não há palavras, vêm-me sempre as lágrimas aos olhos” (Manuela, entrevista n.º 45, RSI, 43 anos)

           
 A Impotência é um sentimento muito presente e sentido de forma generalizada. Este sentimento aparece fortemente associado à falta de recursos internos e externos que permitem a alteração de comportamentos,


“Tristeza por não poder ajudar a pessoa muitas das vezes.” (Emanuel, entrevista n.º 39, reformado, 66 anos)

                       “A pobreza é tão grande que não conseguem fazer nada” (Ana, entrevista
                                n.º 3, RSI, 45 anos)

Sentimento manifestado mais intensamente pelos grupos do(a)s reformado(a)s e do(a)s empregado(a)s, com ligeiramente menos intensidade pelos grupos do(a)s desempregado(a)s e do(a)s beneficiário(a)s de RSI, pouco verbalizado pelo grupo socioeconómico do(a)s estudantes,

                   “Não posso fazer nada do que gostaria, pois não tenho possibilidades.” (Cristina,entrevista n.º 12, reformada, 67 anos)


 “É um sentimento de impotência. Não conseguir fazer nada para mudar o mundo.” (Joaquim, entrevista n.º 2, empregado, 45 anos)
Este sentimento é intensamente partilhado e de igual forma por ambos os géneros, com maior incidência a partir da idade ativa,

"Uma dor imensa no coração, fico completamente caída na rua. Quero ajudar mas não tenho como. Fico horas a pensar no que se passou." (Maria, entrevista n.º 4, desempregada sem subsídio, 52 anos)

 “Quando vejo um pobre, sinto uma grande vontade de ajudar, Infelizmente sou da mesma classe e não posso (…)” (Afonso, entrevista n.º 13, estudante 19 anos)

·      A Pena é um sentimento generalizado a todos os grupos socioeconómicos, embora, sentido com maior intensidade no grupo do(a)s estudantes e do(a)s empregado(a)s, com menor intensidade nos grupos do(a)s reformado(a)s e do(a)s desempregado(a)s e, menos evidente no grupo do(a)s beneficiário(a)s de RSI,

“Sinto pena, mas não posso fazer nada para combater tal acontecimento.” (Carla, entrevista n.º 14, estudante, 17 anos)
São as mulheres que mais intensamente referem o sentimento de pena, em particular as estudantes, as reformadas e as empregadas. É sempre sentido em relação ao outro(a) e nunca em relação a si próprio(a), embora aqui seja entendida como um sentimento interno projetado no outro face à sua própria vivência de pobreza. Este sentimento surge de forma transversal nas várias faixas etárias,


“Pena, lógico e vontade de ajudar, que não posso.” (Vitória, entrevista n.º 38, empregada, 38 anos)


“Fico muito triste e muito incomodada. Se fosse rica ajudava no que pudesse, porque tenho muita pena.” (Sofia, entrevista n.º 18, reformada, 66 anos)


Este sentimento de pena, surge quase sempre associado ao de solidariedade,

“Tenho vontade de ajudar, principalmente os sem-abrigo, as pessoas que estão na rua a pedir. Tenho pena que exista pessoas em condições miseráveis.” (Vera, entrevista n.º 30, estudante, 17 anos)

Se fosse rica ajudava no que pudesse, porque tenho muita pena.” (Sofia, entrevista n.º 18, reformada, 66 anos)

·      O sentimento de Acomodação é fortemente referido e projetado de forma generalizada no outro, face à sua própria vivência de pobreza.

 Há quem associe este sentimento, à falta de conhecimento dos seus direitos, há quem associe a acomodação à existência de subsídios facilitadores da acomodação a um certo estilo de vida. Ambas as atitudes, não facilitam a procura de novas oportunidades que lhes permita sair da pobreza,


Muitos acomodam-se à pobreza e não procuram novas oportunidades.” (Ana, entrevista n.º 3, RSI, 45 anos)

 “(…) há muitos que se acomodam à situação e não têm conhecimento dos seus direitos.” (Maria, entrevista n.º 4, desempregada sem subsídio, 52 anos)


São o(a)s desempregado(a)s e o(a)s reformado(a)s, que referem o sentimento de acomodação com mais intensidade.

 O(a)s empregado(a)s, o(a)s beneficiário(a)s de RSI e o(a)s estudantes referem-no com menor intensidade. São os homens que mais intensamente se referem ao sentimento de acomodação. Este é mais fortemente sentido em idades superiores aos 50 anos,


“Há muita gente pobre e que tem necessidades, mas não querem fazer nada.” (Paulo, entrevista n.º 44, desempregado com subsídio, 52 anos)

“(…) Mas há outros que se habituaram a viver de subsídios e não querem arranjar emprego.” (Ricardo, entrevista n.º 33, reformado, 67 anos)


·         A Culpa é um sentimento que funciona como pano de fundo sempre presente, no decorrer do estudo. Este sentimento nunca é sentido em relação a si próprio(a), mas sempre projetado no(a) outro(a). Existe uma certa dualidade no sentimento de culpa, por um lado, é verbalizado que a responsabilidade é das próprias pessoas, por outro, sentem que há falta de oportunidades.

Muitos acomodam-se à pobreza e não procuram novas oportunidades. Outros a pobreza é tão grande que não conseguem fazer nada e a sociedade não os integra(Ana, entrevista n.º 3, RSI, 45 anos)

O(a)s beneficiário(a)s de RSI e o(a)s reformado(a)s referem-se à culpa mais intensamente e menos o(a)s  desempregado(a)s e estudantes. Este sentimento está omisso no grupo do(a)s empregado(a)s.

No que diz respeito a este sentimento, não existem diferenças entre sexos. São o(a)s mais velho(a)s, com idades superiores aos 50 anos, que referem com maior intensidade este sentimento de culpa,


 “As pessoas quando vivem bem não pensam na pobreza. Só quando estão nesta situação é que pensam nisso.” (Ricardo, entrevista n.º33, reformado, 67 anos)

Se a culpa, anteriormente analisada, é verbalizada como sendo sempre do outro, a revolta é pessoal, e portanto, há uma dimensão interna que se complementa na outra a que parece estar intimamente associada,

“…se as pessoas são pobres porque vivem de subsídios, eu sinto revolta”. (Rute, entrevista n.º 34, reformada, 73 anos)

“Sinto tristeza e revolta. Questiono-me sobre a falta de humanidade e compreensão das situações que existem em nosso redor.” (Fábio, entrevista n.º 29, estudante, 20 anos)

·      Revolta, é um sentimento com três dimensões: uma ligada ao facto de não possuírem os meios e condições para ajudar o(a) outro(a), ou a si próprio(a)s,


Sinto-me pobre e tenho pena de não poder ajudar, revolta-me não poder ajudar e não terem nenhum apoio.” (José, entrevista n.º15, RSI, 47 anos)

Outra dimensão relaciona-se com o sentimento de falta de ajuda, e que tem a ver com o sentimento de culpa e de responsabilização que projetam no outro(a),

“O pobre precisa de uma mão amiga. O pobre precisa sempre de ajuda.” (Filipe, entrevista n.º 21, desempregado sem subsídio, 40 anos)

E, por fim, a dimensão relacionada com o facto de existirem pessoas que se acomodam e que não se movimentam para sair da situação em que se encontram,

 Sinto pena, mas depois, sinto um bocado de revolta pelas pessoas não ajudarem, mas também por estas não fazerem nada por si próprias.” (Nuno, entrevista n.º 42, estudante, 19 anos)

A revolta é mais intensa nos grupos do(a)s estudantes, no(a)s desempregado(a)s e beneficiário(a)s de RSI, seguindo-se do(a)s reformado(a)s.  O(a)s empregado(a)s são omisso(a)s em relação a este sentimento. É mais notória nos homens.

Sinto tristeza e revolta. Questiono-me sobre a falta de humanidade e compreensão das situações que existem em nosso redor.(Marina, entrevista n.º 20, estudante, 20 anos)

Relativamente à questão etária, são as pessoas jovens e as em idade ativa que mais expressam este sentimento de revolta,


“Os pobres não têm nada. Irrita-me quando falam dos pobres porque essas pessoas deviam meter-se na situação” (José, entrevista n.º 15, RSI, 37 anos)

A situação dos idosos parece ser particularmente revoltante para algumas pessoas.

“(…)se for um idoso nesta situação é-me muito difícil, porque fico revoltada por não ajudarem mais estas pessoas de idade.” (Daniela, entrevista n.º 32, desempregada com subsídio, 51 anos)

·         A Luta, sentimento que não é muito explicito no estudo, é contudo referido com baixa intensidade pelo(a)s beneficiário(a)s de RSI, pelo(a)s desempregado(a)s e pelo(a)s estudantes, a sua intensidade é maior nas mulheres, e em idade ativa,


“Luta, Luta contra a pobreza, mas não é fácil.” (Susana, entrevista n.º 10, RSI, 52 anos)

São pessoas. São pessoas iguais às outras. Talvez mais sinceras que lutam mais pela vida, que enfrentam a vida com mais dignidade.” (Diogo, entrevista n.º 47, desempregado sem subsídio, 38 anos)

 Sentimentos específicos

As associações a estes sentimentos, não sendo transversais aos cinco grupos socioeconómicos em análise, dão visibilidade a um grupo de associações a ter em conta num estudo com estas características.

  • Vergonha, é um sentimento quase exclusivo das mulheres reformadas, praticamente ausente no(a)s desempregado(a)s, só um homem lhe faz referência, e ausente no(a)s beneficiário(a)s de RSI, estudantes e no(a)s empregado(a)s,


“Há vários tipos de pobres, mas pessoas que são pobres mesmo e que nem saem de casa com vergonha de se mostrar e outros que só dizem que o são, mas na realidade só querem mostrar mais do que o que é.” (Eduarda, entrevista n.º 40, reformada, 66 anos)


 “As pessoas sentem alguma vergonha em contar a sua situação.” (Paulo, entrevista n.º 44, desempregado com subsídio, 52 anos)

 Este sentimento é mais evidenciado pelas pessoas com idades acima dos 50 anos;

·      O sentimento de Desilusão, surge exclusivamente no grupo do(a)s desempregado(a)s e do(a)s estudantes, e apenas do sexo feminino,


“Desiludida e sem esperanças pois isto não melhora.” (Catarina, entrevista n.º16, desempregada com subsídio, 40 anos)

“Sinto uma tristeza muito grande, sinto uma espécie de desilusão e de solidariedade.” (Joana, entrevista n.º43, estudante, 18 anos)

·         Humilhação, sentimento associado à total ausência de recursos físicos e psicológicos, somente sentida por uma mulher do grupo do(a)s desempregado(a)s sem subsídio,

“Eu acho que é o estado mais humilhante que o ser humano pode ter. Estamos privados de tudo.” (Maria, entrevista n.º4, desempregada sem subsídio, 52 anos)

Quadro n.º 7 – Grupo A – Sentimentos de âmbito pessoal






 

Sentimentos transversais:                                 Sentimentos específicos:


           




Medo                + + + + + +                                      Vergonha        ++




Tristeza            + + + + + +                                       Desilusão        +       


Impotência       + + + + +                                           Humilhação    +              


Pena                 + + + + +                                        


Acomodação   + + + +                                             


Culpa                + + + +

                                                                                

Revolta             + + +


Luta                  + +

Nota: Intensidade classificada de uma, a seis cruzes, onde uma cruz, representa a menor e seis cruzes, a maior intensidade.

Grupo B - Os sentimentos de dimensão social constituem um grupo com uma vivência mais externa e inter-relacionada com o âmbito social. Este grupo é composto por três grandes categorias, solidariedade, desigualdade/injustiça e exclusão social, que pela sua vasta dimensão psicossocial agregam um conjunto de associações que estão intimamente inter-relacionadas (ver quadro n.º 8).

Os sentimentos associados à vivência da pobreza, com uma vivência mais externa e inter-relacionada com o âmbito social são expressos de forma genérica por todos os grupos socioeconómicos, manifestando-se no grupo do(a)s beneficiário(a)s de RSI, do(a)s estudantes e do(a)s reformado(a)s com uma maior intensidade.

No que respeita ao género, tanto homens como mulheres manifestam esta preocupação, porém no global é mais notória nas mulheres, sendo transversal a todas as faixas etárias.

·        Solidariedade, vista de duas perspetivas distintas, uma de dentro para fora e outra de sentido oposto. Quem tem vontade de ajudar mas não pode, e a outra a de quem precisa de ajuda e que não lhe é dada. Ambas são complementares.

 Se a vivência da pobreza tem associado algum sentimento, positivo podemos sem dúvida alguma eleger este sentimento como aquele que reúne a carga associativa mais positiva.

O sentimento de solidariedade é transversalmente sentido por todos os grupos socioeconómicos, embora surja com mais intensidade no grupo do(a)s empregado(a)s e do(a)s estudantes e com menor intensidade nos grupos do(a)s reformado(a)s, desempregado(a)s e beneficiário(a)s de RSI.  Maioritariamente expresso pelas mulheres, não há diferenças ao nível das faixas etárias,

“Destroçada, eu me coloco na história dele. Eu quero ajudar. Há pessoas responsáveis pelos outros.” (Sílvia, entrevista n.º 22, empregada, 40 anos).

 “…não deveria haver ninguém nesta situação. As pessoas mais ricas deviam ajudar os mais pobres. Assim ninguém estaria na situação de pobreza. O mundo estaria melhor assim.” (Marco, entrevista n.º 19, estudante, 18 anos)

“Sinto compaixão é aquela pessoa que está ali e será que já teve uma mão amiga que a ajude?… Sinto vontade de ajudar….” (Filipe, entrevista n.º 21, desempregado sem subsídio, 40 anos)

É um sentimento manifestado em relação aos outros que se encontram na mesma situação ou em situações mais extremas,


“Quando vejo um pobre, sinto uma grande vontade de ajudar. Infelizmente como sou da mesma classe, não posso (…)” (Marco, entrevista n.º 19, estudante, 19 anos)


Penso sempre que é mais pobre do que eu.” (Manuela, entrevista n.º 45, RSI, 43 anos)

Por último, a solidariedade entre as pessoas, é frequentemente referida como inexistente, sentem que quem tem recursos não ajuda quem não tem, existindo a ideia de que as pessoas em situação de pobreza se ajudam entre si,

“As pessoas que têm, não ajudam quem não tem” (Isabel, entrevista n.º 48, RSI, 36 anos)

“Sinto pena mas só se for uma pessoa que quer trabalhar, e não consegue, ou até se trabalha mas tem baixos salários mas não consegue pagar as contas.” (Daniela, entrevista n.º 32, desempregada com subsídio, 51 anos)

“A população em geral podia ajudar, se as pessoas pensassem mais com o coração e não com a mente.” (Isabel, entrevista n.º 48, RSI, 36 anos)

  • Desigualdade e injustiça são sentimentos associados com a precariedade no trabalho, os baixos salários e a situações de desemprego; 

Os sentimentos de desigualdade e de injustiça são mais intensamente sentidos pelos homens e mais nos grupos do(a)s desempregado(a)s e do(a)s reformado(a)s. Aparecem com menos intensidade no(a)s beneficiário(a)s de RSI e estudantes. São omissos no(a)s empregado(a)s,

“Sinto pena, porque a sociedade podia ser muito melhor. A riqueza podia ser muito melhor distribuída.” (Diogo, entrevista n.º 47, desempregado sem subsídio, 38 anos).

“Se houvesse mais ajuda do Estado. Vivem mal, e às vezes sem dinheiro, sem reforma sem nada.” (Bruno, entrevista n.º 23, reformado, 67 anos)

Penso que a pobreza pode ser uma coisa que nós podemos evitar, os mais ricos podem ajudar quem mais necessita. Se o governo não gastasse o dinheiro mal gasto não estávamos numa situação de pobreza absoluta.” (Hilda, entrevista n.º 8, estudante, 19 anos)

  • Exclusão social é um sentimento manifestado de muitas formas mas pouco verbalizado.

 São os grupos socioeconómicos do(a)s beneficiário(a)s de RSI e do(a)s estudantes que mais intensamente remetem para o sentimento de exclusão. É referida com menos intensidade pelo(a)s reformado(a)s. Não é mencionada pelo grupo do(a)s desempregado(a)s e do(a)s empregado(a)s.

São mais as mulheres que associam a exclusão à vivência da pobreza. Mais sentida pela faixa etária mais jovem e em idade ativa,

“(…) A pobreza é tão grande que não conseguem fazer nada e a sociedade não os integra” (Ana, entrevista n.º 3, RSI, 45 anos)


“São pessoas que não tiveram oportunidade de serem alguém.” (Carla, entrevista n.º 14, estudante, 17 anos)

 

Quadro n.º 8 – Grupo B – Sentimentos de âmbito social





Solidariedade                     + + + + 


Desigualdade/Injustiça     + + +


Exclusão social                 + +       


 Nota: Intensidade classificada de uma, a seis cruzes, onde uma cruz, representa a menor e seis cruzes, a maior intensidade.

* Texto retirado da investigação "A vivência da pobreza" apresentada em janeiro de 2014 no pavilhão do conhecimento em, Lisboa
Nota: poderá ter acesso à totalidade do estudo através do link:
http://www.ami.org.pt/media/pdf/estudo_vp.pdf

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