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quarta-feira, 1 de março de 2023

Sonhos de Criança

Quando era miúda tinha um sonho, como seria tudo mais fácil se os pensamentos, sentimentos, emoções, intuições, entrassem directamente na cabeça do outro e ou da outra e vice-versa…, assim teríamos que viver com a sinceridade, a falsidade e a ambivalência dos nossos pensamentos, enfim com a verdade essencial da existência!... e ficariam as emoções, será que as emoções também são ambivalentes como os pensamentos? Ou as emoções são algo que não precisamos decorar ou apontar na agenda porque simplesmente elas ficam marcadas nas nossas células, no nosso coração!...

O que eu mais aprecio nas emoções é que não precisamos de as apontar ou tirar fotos, para que fiquem bem registadas nas nossas memórias, o mesmo já não posso dizer em relação aos pensamentos, que por mais que queiramos retê-los pela sua qualidade ou necessidade, a maior parte das vezes não o conseguimos fazer.

Os pensamentos, podem esquecer-se senão os apontarmos, mas as emoções, essas, ficam marcadas no nosso sentir, e podemos com maior ou menor esforço recuperá-las desde o inicio da nossa existência humana, ou quem sabe espiritual.

A emoção que sentimos quando o comboio partiu e na estação vemos o rosto choroso da nossa avó que ficou para traz!...sim, essas emoções, sensações nunca nos abandonam durante toda a vida!...os pensamentos são efémeros, por serem mentais e não pertencerem à vivência visceral da nossa existência não física.

Sim também sei que me pressinto preguiçosa e a vida não me tem mostrado o caminho na direcção do aprofundamento a minha essência!...também sei que tenho vivido para e em função do exterior em detrimento de mim mesma e dividida entre a razão e a emoção que esta atitude implica!...

Visível e marcadamente as minhas prioridades intelectuais manifestas nos vários domínios da minha vida estão marcadas por uma dimensão extrínseca à minha essência e focalizada numa existência do quotidiano terreno, duma visão idealizada das sociedades humanas!...

Vi-me empurrada para não dizer “forçada” a ser uma líder detentora de uma racionalidade que não é minha por essência, que nunca foi!... fui brutalmente socializada e aculturada pelo modelo dominante, pelo mundo concebido pelos homens, para os homens!... Esse modelo racional e lógico pesa-me!...sempre me pesou!…

É-me vital e absolutamente necessário aliviar o fardo de modo a me sentir leve, luminosa e poder voar nas assas das estrelas luminosas e inatingíveis através dos cinco sentidos que nos pertencem.

https://draft.blogger.com/blog/post/edit/1849180516377773910/6979056262553846921

sexta-feira, 29 de março de 2019

Sonhos Ou Programações para Meninas Crentes?

Que sonhos são semeados no coração e na mente das meninas assim que saem do útero das suas mães? 

Lembro-me com clareza e alguma nostalgia os finais dos dias, em que íamos cedo para a cama e ela sentava-se na cama a rezar, eu já deitada ao seu lado, sentia o seu calor e o seu cheiro, parece que ainda hoje os sinto e ouvia a ladainha das suas orações, esta imagem remete-me para um sentimento de conforto, de protecção e segurança inigualáveis em qualquer outro momento da minha vida. 


Íamos à missa ao domingo, depois tinha a catequese e à quarta feira ia com a minha avó para a igreja ajudar a compor as jarras com flores brancas na maioria, nos altares e foi aí que eu comecei a sentir uma certa cumplicidade e mesmo intimidade com Deus e com os santos. 


Na verdade, eu estava muito próxima dos santos da minha igreja, da sua santidade e isso conferia-me importância e bem-estar. Sim, eu também rezava com a minha avó. Ainda hoje me lembro dos meus pedidos que mentalmente fazia. 
Igreja de Ferragudo - Nossa Senhora Da Conceição

Estava apaixonada por um rapazito da minha idade, 6 anos, queria casar e ser feliz com ele. Curiosamente muitos anos depois vim a saber que ele tinha ido para padre, não sei se é verdade ou não, pois depois de vir para Almada, para casa dos meus pais, nunca mais soube nada sobre ele, ou pouca coisa, lembro-me de o ter visto uma vez em Ferragudo, já eu era casada com o pai do meu filho, sendo este já nascido!... 

Casar e ser feliz num romance com um homem. Que desejo era este aos 6 anos? Que modelo é este? Não sei, porque na altura nem televisão tinha e, portanto, seria um modelo veiculado de que forma e por quem? Não sabia muito bem ler, portanto nem nos “caprichos” apanhava o modelo!…Será inato? Esta ideia idealizada do príncipe encantado? Será que a minha avó me contava a história da bela adormecida que o príncipe vem salvar? Sim, poderia ser por aí!...mas duvido!... A minha avó era uma mulher crente, mas prática e não me lembro dela me contar histórias. Antes dos caprichos e das telenovelas tínhamos os contos de fada que nos moldavam a mente? sim poderá ter sido por aí, esse meu sonho de casar e ser feliz para sempre!... 

Tentando encontrar um entendimento, para a causa de uma menina de 6 anos já percepcionar o enamoramento por um menino da sua idade e projectar na mesmo esta idealização de vida a dois, sem ter ainda ter qualquer noção do que isso possa na realidade implicar. 

Nessa altura nem sonhava como se fazia bebés ou mesmo, não tenho memória de sentir qualquer tipo de desejo carnal. 

Passo a citar uma passagem do livro A discípula Amada de Esther de Boer, que nos pode explicar da razão de uma menina ter estes sonhos: 

Falando de Maria Madalena e das mulheres que seguiam Jesus, Orígenes referido por Esther de Boer no seu livro, Maria Madalena, a Discípula Amada, descreve Maria que Paulo menciona na Carta aos Romanos precisamente como mestra. 

Comenta ele assim a carta aos romanos: 

“Saudações Maria, que trabalhou muito por vós”. Ele (Paulo) ensina neste texto que as mulheres devem trabalhar pelas igrejas de Deus tanto como os homens. Porque elas trabalham quando ensinam as jovens a serem frugais, a amarem os seus maridos, a educarem os filhos, a serem reservadas e castas, a governarem as suas casas, a serem boas e submissas aos seus maridos, a exercerem a hospitalidade, a lavarem os pés aos santos e a porem em prática castamente todas as outras coisas escritas acerca dos deveres das mulheres (comentário sobre a carta aos Romanos,X,20). 
Pág. 103, Esther de Boer, Maria Madalena – A discípula Amada. 

Esta interpretação do que se entende por dever da mulher, depois da vinda de Cristo e da manipulação da sua doutrina pelo Cristianismo operacionalizada pela igreja Católica, vem passando de mulher para mulher ao longo de séculos e século, poderá ter repercussões nas meninas, que já nascem com essa grande mentira aculturada, inserida nas suas mentes, coração e atrevo-me mesmo a dizer, no seu ADN que instrumentaliza o seu quotidiano, as suas vidas e consequentemente toda a humanidade? 

Sim porque esta instrumentalização da mulher não é privilégio do cristianismo, ela é transversal, de forma mais ou menos evidente, a todas as religiões do mundo. 

Como nos vermos livres deste peso secular? desta brutal instrumentalização? sem nos perdermos, sem nos descontextualizarmos da nossa essência feminina primordial? Será possível recuperar peças de um puzzle todo ele cortado, recortado e bem escondido do consciente humano no mais profundo da sua existência terrena? 

A negação do espiritual e do feminino das sociedades humanas, faz com que esta procura ainda seja mais difícil e ou mesmo impossível de se fazer. 

Há um caminho repleto de barreiras, de ratoeiras e outro tipo de obstáculos vários, que nos impede de aceder à verdade do que é a existência da plenitude feminina unida ao princípio masculino esse também domesticado e treinado para afastar-se da feminilidade inerente a toda a existência humana e divina. 

Esta história de contos de fada de que vos falava é bem mais profunda e ancestral que as histórias da Bela adormecida e da Branca de Neve, ela remonta à felicidade primordial que nos foi passada, a de Adão e de Eva, que viviam felizes no paraíso, antes da Eva querer aceder à árvore da sabedoria. Mal sabia ela que a sabedoria de que tanto ansiava lhe iria ser negada por séculos e séculos de domínio falocrático, domínio esse, exercido pelo cristianismo que passou de perseguido a perseguidor e nessa perseguição feroz a tudo o que pudesse colocar em causa o seu poder divino, a Eva que queria aceder ao saber e à verdade, tratou de destruir, mentir, ludibriar, apagar, queimar. 

Que paradoxo têm elas que gerir na dualidade, entre o sonho e a realidade? 

Não fosse o Capitalismo financeiro e ainda hoje as sociedades cristãs seriam dominadas pela doutrina da igreja Católica e aí as mulheres, como na religião Islã, estariam ainda a serem apedrejadas e escravizadas pelos seus maridos, pais, irmãos, padres, monges, enfim, pelo poder masculino que domina em níveis com maior ou menor intensidade esta vida terrena. 

A frustração que estes sentimentos comportam no futuro é tremenda e certas mulheres, não suportam a realidade das relações. 
Ana Maria Ferreira Martins
Excerto do livro "Mulher Plena Num Mundo De Homens"