sábado, 13 de junho de 2015

Santa Maria Vieira - Açores

Maria Vieira

uma menina da Ilha Terceira que no ano de 1940 foi abordada por um homem que a tentou violar, ela na luta que travou na tentativa de lhe fugir foi atacada na cabeça com um machado, tendo morrido. Parece que algumas pessoas ligadas à Igreja querem fazer desta menina vitima de tentativa de violação e de assassínio, uma santa não pela violência que viveu e que muitas outras crianças e mulheres têm vivenciado ao longo da história humana, mas sim pelo facto de ela ter dito algumas palavras antes de partir para outra dimensão, em que terá pedido para não fazerem mal ao seu assassino e que no fundo o desculpava pela violência a que foi sujeita.

Será este o exemplo que a igreja católica pretende passar da atitude que as meninas e mulheres devem ter em relação a tamanha atrocidade? Diz-se algures num jornal açoriano que a menina preferiu morrer a perder a sua virgindade e associam este crime ao culto mariano. Que sentimentos de culpa pretendem passar a todas as meninas e mulheres violadas fora e dentro de casa, a de culpadas por estarem vivas?!
Incredulidade é o que sinto pelos argumentos apresentados pelos que tentam que Maria Vieira passe de Mártir a Santa com este tipo de fundamentação.

Maria Vieira deveria ser santificada por simbolizar a inocência e a pureza de todas as meninas sujeitas a este tipo de atos violentos e desprovidos de espiritualidade. Maria Vieira simboliza toda a essência feminina que silenciosamente e invisivelmente têm sido sonegada à humanidade. O perdão de Maria Vieira ao seu agressor, deve ser visto à luz da sua inocência e credulidade, pois segundo pude ler, foi uma menina que frequentava a catequese, como todas as meninas da sua idade e o que aprendeu na vida foi a “perdoar, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido” e aprendeu o que lhe ensinaram a respeitar, os valores dominantes do poder patriarcal e por conseguinte da religião cristã pregada pelos padres.

O pedido da canonização desta menina com base no pressuposto do seu perdão ao agressor é um incentivo à perpetuação da violência física e psicológica do homem sobre a mulher, pior ainda sobre as meninas. É urgente esclarecer e chamar a tenção para o perigo que este tipo de argumento representa para a segurança da mulher. A igreja não pode compactuar com este modelo de santa que é quem prefere a morte à perda da virgindade, este não pode ser o modelo que as sociedades humanas defendem...

Maria segundo as escrituras concebeu o seu filho, Jesus sem a intervenção do homem, sem o espermatozoide fertilizador. A virgindade e a sacralidade de Maria está no facto de poder gerar um ser humano sem a participação de um homem, ela no seu útero gerou um ser sagrado sem a intervenção de um falo e de um espermatozoide. Sim, é nesta capacidade divina de gerar dentro de si o sagrado, a vida que reside a virgindade de Maria, não num hímen fechado ou aberto.

Maria Vieira é uma santa porque a divindade habita na mulher, porque como milhões de meninas e mulheres foram e são sujeitas à violência física que o poder dos homens tem tratado de desvalorizar, calar, esconder ou em última análise servir como exemplo que protege todos os violadores pois a menina, mulher séria é a que perdoa, silencia e escolhe a morte a ter que enfrentar o poder e o julgamento dos homens.
Por algum motivo em lugares do mundo muçulmano as mulheres violadas são postas de parte, consideradas impuras, afirmando que a culpa é delas que provocam porque mostraram um pé, um dedo, um olho..., é este o caminho que a fé da igreja católica quer percorrer?

Sempre a velha história da santa e da puta!... as mulheres santas não se deixam violar e se deixam são putas, escolhe!...

A todas as Marias Vieiras do Mundo, deixo aqui este texto. Deixo-o igualmente porque sinto que a mártir e espero que reconhecida santa Maria Vieira gostaria que alguém mais cedo ou mais tarde abordasse a sua história de uma outra perspetiva e com outro foco.
Ana Maria Ferreira Martins

13-06-2015

https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=66Pf6Fu6p8A




sexta-feira, 27 de março de 2015

Maria Madalena, A discípula Amada



"Falando de Maria Madalena e das mulheres que seguiam Jesus, Orígenes referido por Esther de Boer no seu livro, Maria Madalena, a Discípula Amada, descreve Maria que Paulo menciona na Carta aos Romanos precisamente como mestra. Comenta ele assim a carta aos romanos:
Saudações Maria, que trabalhou muito por vós”. Ele (Paulo) ensina neste texto que as mulheres devem trabalhar pelas igrejas de Deus tanto como os homens. Porque elas trabalham quando ensinam as jovens a serem frugais, a amarem os seus maridos, a educarem os filhos, a serem reservadas e castas, a governarem as suas casas, a serem boas e submissas aos seus maridos, a exercerem a hospitalidade, a lavarem os pés aos santos e a porem em prática castamente todas as outras coisas escritas acerca dos deveres das mulheres (comentário sobre a carta aos Romanos,X,20).
pág 103, Esther de Boer, Maria Madalena – A discípula  Amada.

Encontrei esta reflexão que enquadra bem este texto.

*•.¸¸.•Rezadeiras¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•*´: Maria Madalena, o Apóstolo esquecido:   Extraído da revista Universo Espírita nº 22 • www.universoespirita.com.br Nem todos os cristãos contemporâneos de Jesus compreenderam sua...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Religiões Pagãs


Porque razão o tempo das religiões "pagãs" e do culto das divindades femininas continua nas trevas da história da humanidade?
 
“Porque será que, para tantas pessoas educadas neste século, a Grécia Clássica é a cultura mais importante, quanto, pelo menos vinte e cinco séculos antes dessa época, já se usava a linguagem escrita e se erigiam grandes cidades? Porventura mais importante é saber por que razão se continua a concluir que o tempo das religiões “pagãs” e do culto de divindades femininas (quando é mencionado) foi uma idade das trevas caótica, misteriosa e nefasta, sem a luz da ordem e da razão que, supostamente, acompanharam as religiões masculinas posteriores, quando, segundo achados arqueológicos, os primórdios do direito, do governo, da medicina, da agricultura, da arquitetura, da metalurgia, dos veículos com rodas, da cerâmica, dos têxteis e da linguagem escrita ocorreram em sociedades com o culto da Deusa?”
Stone, Merlin. When God Was a Woman (nova Iorque: Dial Press, 1976),xxIv em As Deusas em Cada Mulher de Jean Shinoda Bolen – Planeta Editora 2001