A era das novas tecnologias, através das redes sociais, veio criar um espaço específico, o qual foi massivamente apropriado pelas mulheres. Elas já não precisam de sair de casa, para formarem grupos de discussão e de interesses, já não precisam de sair de casa para interagirem. Elas manifestam de forma clara o que pensam sobre a forma como a sociedade as trata.
Alguns, poucos, homens têm-se identificado e aliado de uma forma consciente com a luta das mulheres pelos seus direitos, numa sociedade fortemente masculinizada e tremendamente injusta a que as mulheres têm de forma violenta e inconsciente sido sujeitas, e têm, através da alteração de comportamentos e actualização das leis que regem as sociedades, facilitado o acesso das mulheres a algumas dimensões da vida humana que foram inexplicavelmente vedadas às mulheres!.. como por exemplo, viajarem sozinhas sem terem que ter a autorização do marido, pai ou irmão, consoante a situação da mulher, poderem receber os seus salários sem intermediários, não permitir que legalmente os maridos lhes batam, poderem casar com homens com um salário mais baixo que o delas, poderem frequentar a faculdade e até votar, e muitas outras práticas que subjugavam a mulher ao homem!....
Os murmúrios da pretensa libertação da mulher do poder que o homem exerce sobre ela, é real, mas sempre balizado e enquadrado sob determinados limites!... A sociedade de forma demagógica e poderei mesmo dizer, hipócrita, aceita e até fomenta movimentos pró-libertação, pró-igualdade das mulheres, contudo não é através de leis ou documentos, por muito bem escritos, impressos e intencionados que sejam por parte de quem os discutiu e concebeu que os comportamentos e as matrizes ideológicas, mentais se alteram. Há toda uma revolução por fazer, talvez a maior desde que a humanidade se tornou escrava da enaltecida masculinidade em detrimento da desvalorizada e esmagada feminilidade. A revolução ao nível da essência dos seres humanos, da verdade humana.
A luta das mulheres por se tornarem à sua maneira, participantes activas na sociedade onde nasceram, é uma verdade irrefutável que as alterações às leis, no sentido da pertença igualdade de género só tem existido devido à pressão de alguns homens sobre o poder dominante do patriarcado, pois as mulheres eram inexistentes neste circulo de poderosas marcantes e influentes individualidades, que sempre povoaram as páginas da história mundial nos últimos 2.500 anos.
As generalizações são perigosas, mas ainda mais perigoso é fazer tábua rasa das minorias ou das maiorias deliberada ou obrigatoriamente silenciadas como é o caso da situação das mulheres no decorrer duma civilização de carácter falocrático e patriarcal.
Ana Ferreira Martins
11-6-2019
Um excerto do livro "Mulher Plena Num Mundo de Homens-Mulheres que sonham" |
Trata-se de um blog que dominantemente debruça-se sobre as questões de género e da necessidade de preservar o feminino das sociedades e das relações humanas
terça-feira, 11 de junho de 2019
A fusão integrativa das mulheres num mundo pré-concebido por homens
segunda-feira, 22 de abril de 2019
A Vivência Da Pobreza
A Vivência Da Pobreza - Irei estar dia 24 de Abril, pelas 18h em Alcoutim a apresentar o livro, A Vivência Da Pobreza. Investigação realizada a nível nacional no âmbito da intervenção social dos Centros Porta Amiga da AMI. Quem estiver por perto apareça!...

Foi tentando perceber o universo associativo da vivência da pobreza e ao mesmo tempo analisá-lo numa lógica de classes sociais intimamente ligada aos rendimentos auferidos que apreendemos a forma de tornar visível uma realidade que há muito sentíamos por expressar.A análise género tornou-se uma evidência imprescindível para melhor entender a realidade em estudo, pois nela reside uma clara diferenciação de comportamentos.
O retrato dominante da pessoa que vivência a situação de pobreza dá-nos em última análise o rosto mais visível da pobreza.E com este retrato da pessoa em situação de pobreza concluímos este estudo sobre a vivência da pobreza, na esperança que o mesmo seja uma excelente sementeira nesta imensidão de abordagens possíveis no infeliz e fértil campo de cultivo que tem sido a Pobreza.
Palavras chave: AMI, pobreza, género, classes sociais, universo associativo, vivência pobreza
Pode encomendar a investigação em:https://ami.org.pt/loja/livros/vivencia-da-pobreza/
segunda-feira, 15 de abril de 2019
Biografia -Ana Ferreira Martins
Ana Ferreira Martins
Apaixonada e nascida por terras algarvias é em Almada e Lisboa que se sente em casa.
Ser mãe foi determinante na forma como sentiu a vida. O olhar interessado pelos fenómenos das pessoas sem abrigo e das questões da igualdade de género são inequivocamente o seu foco de vida.
Assistente Social de formação, exerce funções como Directora Nacional da Ação Social Da AMI, desde 2000. Mestre em Estudos Sobre As Mulheres, inter-relacionou o fenómeno das pessoas sem abrigo com as questões de género surgindo a sua tese de mestrado: As Sem Abrigo De Lisboa, premiada com o prémio Madalena Barbosa da Comissão da Igualdade de Género.
Publica a nível nacional e europeu, artigos relacionados com a pobreza em geral e em particular sobre as pessoas sem abrigo e com as questões da igualdade de género.
Comentadora em vários meios de comunicação social. Professora Universitária no Instituto Piaget. Formadora acreditada na área comportamental, pobreza, serviço social e género. Supervisora em Serviço Social.
Autora dos livros:
As Mulheres Sem Abrigo De Lisboa - Mulheres Que Sonham Com Uma Casa - Editado pela Chiado Editora
A Vivência da Pobreza - Editado pela Fundação AMI.
Autora dos blogues:
Feminina a Resgatar e a Integrar - Mis-ce-lâ-nea
Aconselhamento em Serviço Social - Social Counseling in Social Work Services
sexta-feira, 29 de março de 2019
Sonhos Ou Programações para Meninas Crentes?
Lembro-me com clareza e alguma nostalgia os finais dos dias, em que íamos cedo para a cama e ela sentava-se na cama a rezar, eu já deitada ao seu lado, sentia o seu calor e o seu cheiro, parece que ainda hoje os sinto e ouvia a ladainha das suas orações, esta imagem remete-me para um sentimento de conforto, de protecção e segurança inigualáveis em qualquer outro momento da minha vida.
Íamos à missa ao domingo, depois tinha a catequese e à quarta feira ia com a minha avó para a igreja ajudar a compor as jarras com flores brancas na maioria, nos altares e foi aí que eu comecei a sentir uma certa cumplicidade e mesmo intimidade com Deus e com os santos.
Na verdade, eu estava muito próxima dos santos da minha igreja, da sua santidade e isso conferia-me importância e bem-estar. Sim, eu também rezava com a minha avó. Ainda hoje me lembro dos meus pedidos que mentalmente fazia.
Estava apaixonada por um rapazito da minha idade, 6 anos, queria casar e ser feliz com ele. Curiosamente muitos anos depois vim a saber que ele tinha ido para padre, não sei se é verdade ou não, pois depois de vir para Almada, para casa dos meus pais, nunca mais soube nada sobre ele, ou pouca coisa, lembro-me de o ter visto uma vez em Ferragudo, já eu era casada com o pai do meu filho, sendo este já nascido!...
Igreja de Ferragudo - Nossa Senhora Da Conceição |
Estava apaixonada por um rapazito da minha idade, 6 anos, queria casar e ser feliz com ele. Curiosamente muitos anos depois vim a saber que ele tinha ido para padre, não sei se é verdade ou não, pois depois de vir para Almada, para casa dos meus pais, nunca mais soube nada sobre ele, ou pouca coisa, lembro-me de o ter visto uma vez em Ferragudo, já eu era casada com o pai do meu filho, sendo este já nascido!...
Casar e ser feliz num romance com um homem. Que desejo era este aos 6 anos? Que modelo é este? Não sei, porque na altura nem televisão tinha e, portanto, seria um modelo veiculado de que forma e por quem? Não sabia muito bem ler, portanto nem nos “caprichos” apanhava o modelo!…Será inato? Esta ideia idealizada do príncipe encantado? Será que a minha avó me contava a história da bela adormecida que o príncipe vem salvar? Sim, poderia ser por aí!...mas duvido!... A minha avó era uma mulher crente, mas prática e não me lembro dela me contar histórias. Antes dos caprichos e das telenovelas tínhamos os contos de fada que nos moldavam a mente? sim poderá ter sido por aí, esse meu sonho de casar e ser feliz para sempre!...
Tentando encontrar um entendimento, para a causa de uma menina de 6 anos já percepcionar o enamoramento por um menino da sua idade e projectar na mesmo esta idealização de vida a dois, sem ter ainda ter qualquer noção do que isso possa na realidade implicar.
Nessa altura nem sonhava como se fazia bebés ou mesmo, não tenho memória de sentir qualquer tipo de desejo carnal.
Passo a citar uma passagem do livro A discípula Amada de Esther de Boer, que nos pode explicar da razão de uma menina ter estes sonhos:
Falando de Maria Madalena e das mulheres que seguiam Jesus, Orígenes referido por Esther de Boer no seu livro, Maria Madalena, a Discípula Amada, descreve Maria que Paulo menciona na Carta aos Romanos precisamente como mestra.
Comenta ele assim a carta aos romanos:
“Saudações Maria, que trabalhou muito por vós”. Ele (Paulo) ensina neste texto que as mulheres devem trabalhar pelas igrejas de Deus tanto como os homens. Porque elas trabalham quando ensinam as jovens a serem frugais, a amarem os seus maridos, a educarem os filhos, a serem reservadas e castas, a governarem as suas casas, a serem boas e submissas aos seus maridos, a exercerem a hospitalidade, a lavarem os pés aos santos e a porem em prática castamente todas as outras coisas escritas acerca dos deveres das mulheres (comentário sobre a carta aos Romanos,X,20).
Pág. 103, Esther de Boer, Maria Madalena – A discípula Amada.
Esta interpretação do que se entende por dever da mulher, depois da vinda de Cristo e da manipulação da sua doutrina pelo Cristianismo operacionalizada pela igreja Católica, vem passando de mulher para mulher ao longo de séculos e século, poderá ter repercussões nas meninas, que já nascem com essa grande mentira aculturada, inserida nas suas mentes, coração e atrevo-me mesmo a dizer, no seu ADN que instrumentaliza o seu quotidiano, as suas vidas e consequentemente toda a humanidade?
Sim porque esta instrumentalização da mulher não é privilégio do cristianismo, ela é transversal, de forma mais ou menos evidente, a todas as religiões do mundo.
Como nos vermos livres deste peso secular? desta brutal instrumentalização? sem nos perdermos, sem nos descontextualizarmos da nossa essência feminina primordial? Será possível recuperar peças de um puzzle todo ele cortado, recortado e bem escondido do consciente humano no mais profundo da sua existência terrena?
A negação do espiritual e do feminino das sociedades humanas, faz com que esta procura ainda seja mais difícil e ou mesmo impossível de se fazer.
Há um caminho repleto de barreiras, de ratoeiras e outro tipo de obstáculos vários, que nos impede de aceder à verdade do que é a existência da plenitude feminina unida ao princípio masculino esse também domesticado e treinado para afastar-se da feminilidade inerente a toda a existência humana e divina.
Esta história de contos de fada de que vos falava é bem mais profunda e ancestral que as histórias da Bela adormecida e da Branca de Neve, ela remonta à felicidade primordial que nos foi passada, a de Adão e de Eva, que viviam felizes no paraíso, antes da Eva querer aceder à árvore da sabedoria. Mal sabia ela que a sabedoria de que tanto ansiava lhe iria ser negada por séculos e séculos de domínio falocrático, domínio esse, exercido pelo cristianismo que passou de perseguido a perseguidor e nessa perseguição feroz a tudo o que pudesse colocar em causa o seu poder divino, a Eva que queria aceder ao saber e à verdade, tratou de destruir, mentir, ludibriar, apagar, queimar.
Que paradoxo têm elas que gerir na dualidade, entre o sonho e a realidade?
Não fosse o Capitalismo financeiro e ainda hoje as sociedades cristãs seriam dominadas pela doutrina da igreja Católica e aí as mulheres, como na religião Islã, estariam ainda a serem apedrejadas e escravizadas pelos seus maridos, pais, irmãos, padres, monges, enfim, pelo poder masculino que domina em níveis com maior ou menor intensidade esta vida terrena.
A frustração que estes sentimentos comportam no futuro é tremenda e certas mulheres, não suportam a realidade das relações.
Ana Maria Ferreira Martins
Excerto do livro "Mulher Plena Num Mundo De Homens"
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