terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Mundos de pessoas


Há tantos mundos por aí!
Há quem nasça e morra sem conhecer o seu mundo!...
É muito mais cómodo só conhecer o nosso mundo!…

Torna-se difícil viver com o mundo dos outros!
Todos somos poetas...
Uns menos que outros...
Todos temos algo para dizer e queremos que alguém nos ouça!


Todos falam num café,
ninguém ouve os outros,
Cada um só de ouve a si próprio,
os outros fingem ouvir.
Vivemos todos para dentro de nós próprios...
Escondemos uma sede tremenda de nos tornarmos notados.


Quando alguém sede a essa cede desenfreada,
é chamado de traumatizado!...
Vivemos amachucados, amolgados pelo vizinho do lado,
Pelo amigo, pelo namorado, por nós próprios!...
Quando nos queremos libertar é demasiado tarde,
ou então, ouve-se na mesa ao lado:
- Como ela era e como ela é, nunca pensei!...
AMFM
30-3-1982




segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Heidegger na Vida das Mulheres

Heidegger

Em jovem era e acho que ainda sou apaixonada por filosofia, lia pensava eu, do inicio, Platão, Sócrates, Aristóteles e por aí fora até aos mais contemporâneos. Depois dediquei-me ao fenómeno da pobreza em particular, em ser mãe e confesso que as minhas leituras se tornaram menos exigentes ao nível da consciência filosófica das coisas e virei-me mais para uma visão sociológica das sociedades, bom, mas isto tudo para vos dizer que ando a fazer uma "revisão" a esses livros, muitos que li pelos meus 18, 19, 20 anos..., e concretizou-se a minha certeza...,nada daquilo foi escrito para nós ou a pensar em nós, mulheres, somos claramente excluídas de qualquer teoria ou pensamento mais aprofundado, senão leiam esta passagem da Carta Sobre o Humanismo escrita por Heidegger:


"A humanidade do homem é algo que diz respeito à própria natureza (essência). Onde é e como é tal natureza discernível? A natureza humana do homem será manifestada e reconhecida só em sociedade, como Marx o pretende? O homem social será idêntico ao homem humano, já que é na sociedade que ele descobre e assegura as suas naturais necessidades (alimentação, vestuário, propagação da espécie, património científico?).

Já Cristo revelou a humanidade do homem-"humanitas des homo"- delimitando-a em face da divindade. Homem. em sentido, era o homem "filho de Deus", que a pretensão do Pai, transmitida por Cristo, em si aceita e assume, fazendo do seu discurso vital uma história da Salvação. Não é deste mundo o homem: encontra-se nele em trânsito para outro mundo, para um trans-mundo, uma vez que o cristianismo retomou, sem talvez de facto se aperceber, a noção platónica de mundo como um trânsito para o Além"....Heidgger, carta Sobre o Humanismo, pág.2

Isto continua...na verdade qual a mulher que se revê neste discurso feito de homens para homens? Como é possível não ter consciência deste facto desde que começamos a ser formatadas com a história de Portugal na quarta classe? História de Portugal ou a história de homens poderosos? 
Enfim, ter consciência ajuda mas não alivia por completo a pressão brutal sobre as mulheres desta sociedade falocrática!...
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A Mulher Quer Emancipar-se

“A mulher quer emancipar-se: e para isso começa a esclarecer aos homens sobre “a mulher em si” – isto constitui um dos piores afeamentos da Europa. Pois quanta coisa não se revelará nestas tentativas desajeitadas do cientificismo e autodesnudamento femininos! A mulher tem tantas razões para ficar envergonhada: na mulher há tanto de pedantismo, de superficial, doutrinário, de presunção mesquinha, de pequenez desenfreada e imodesta – analise-se o seu convívio com crianças! -, o que no fundo, até agora, só o medo do homem refreou e reprimiu. Ai de nós no dia em que o “eternamente-aborrecido na mulher” – e ela é rica nisso – ouse aparecer! Quando ela começar a desaprender, completamente e de vez, a sua inteligência e a sua arte, a sua graciosidade, a de brincar, de afugentar cuidados, de aliviar as penas, e de as tornar de ânimo leve, o seu delicado jeito para desejos agradáveis! Agora já se houvem vozes femininas que por Santo Aristófanes!, assustam; explica-se ameaçadoramente e com clareza de médico o que em  primeira e última análise, a mulher quer do homem. Não se revela um profundo gosto o facto de a mulher se preparar desta maneira para ser científica? Até agora, a tarefa do esclarecimento, era, felizmente coisa do homem, dom masculino-ficava-se “entre si”, e têm-se o direito de por reservas em tudo o que as mulheres escrevem sobre a “mulher”, e de desconfiar que a mulher,  afinal, queira esclarecimentos a seu próprio respeito-e que possa querê-lo…Se é que, com isto, ela não procura para si um novo adorno – creio que o adornar-se faz parte do eterno feminino? Pois bem, então pretende fazer-se recear: e talvez assim, pretenda dominar. Mas não quer a verdade: o que importa à mulher a verdade! Desde a origem, nada é mais estranho, mais avesso, mais odioso à mulher do que a verdade-a sua grande arte é a mentira, o que mais lhe interessa é a aparência e a beleza.” Nietszche, para além do bem e do mal. Pág. 153,154

Nietszche- filósofo Alemão do século XIX


Desmontar todo este raciocínio masculino é urgente!...todas nós mulheres estudámos e imbuimo-nos destas doutrinas bolorentas, misóginas e construímos os pilares da nossa auto-imagem com base nestes pressupostos!...Desconstruir e voltar a construir, trabalho moroso e delicado que leva gerações e gerações de mulheres conscientes a fazê-lo. Mulheres conscientes, onde? Como? Este é o trabalho que as mulheres têm em mãos nas próximas gerações… Caso este aumento de consciência não prolifere iremos ter um mundo exclusivamente e dominantemente masculino onde a essência e a consciência feminina foi completamente remetida para as profundezas do inconsciente humano. A espiritualidade da humanidade obviamente irá ficar acorrentada a este estado de coisas…. 
AFM
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domingo, 15 de janeiro de 2017

AS MINHAS ROSAS
A minha ventura, sim! - quer dar ventura-,
Toda a ventura só quer dar ventura!
Quereis colher as minhas rosas?

Tereis de curvar-vos e esconder-vos
Entre rochas e espinheiros,
E chupar muitas vezes os dedinhos!

Porque  a minha ventura-gosta de arreliar!
Porque a minha ventura-gosta de artimanhas!
Quereis colher as minhas rosas?

Nietzsche, Poemas, Pág.129
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Pensamentos Sobre Palavras

Pensamentos Sobre Palavras

Tanta inspiração estrangulada,
por um filtro de emoções e de sentimentos,
tanto por dizer, sem saber como dizê-lo…
é como se quisesse escrever tudo ao mesmo tempo,
incapaz de fazê-lo, desisto sem nada dizer,
e com tanto para dizer…

Porquê escrever duas folhas se podemos escrever seis?
não será melhor não escrever essas duas,
senão nos sentimos com capacidade de escrever as seis?
talvez os nossos sentimentos devessem ser como a tinta desta caneta,
qualquer um diria que é azul.

Talvez estas linhas que escrevo
para uns sejam vermelhas,
para outros amarelas,
mas para mim terão sempre a cor que eu lhes quero dar.

Porquê que as palavras não suportam os pensamentos?
porquê que os pensamentos muitas vezes não se deixam exprimir por palavras?
não há dúvida que não foram feitos um a pensar no outro.
cada um existe por si mesmo,
a palavra não tem como fim descrever o pensamento,
tem muito mais facilidade em descrever o real que nos circunda, o objectivo, o palpável.

A linguagem do pensamento é muito frágil e muitas vezes
sofre com a acção destruidora das palavras.

 30-3-1982
AMFM

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Mulheres Sem Abrigo



Quatro quintos das mulheres reportam problemas relacionais como causa para a sua situação de sem abrigo. As rupturas de relações, violência doméstica, separações e viuvez podem levar as mulheres a ficarem sem lar.  (Enderes-Dragasser, 2000, cit. in Edgar, 2001),


“Está a viver na rua há aproximadamente dois meses. Antes
vivia numa casa com um companheiro, mas a relação acabou
e ela saiu de casa” (Margarida 60, solteira, 48 anos).

“Tem 25 anos, é solteira e está grávida de 6 meses. Vive com
o namorado em casa de uns amigos, que a vão ajudar até o
bebe nascer. Antes de viver com o actual companheiro, re-
sidia com a avó que a criou, mas foi expulsa de casa por
estar grávida. Os pais já faleceram. Tem um irmão, mas não
sabe nada dele. O namorado está desempregado devido ao
término de contrato sem remuneração” (Mónica 7, solteira)nos).