terça-feira, 28 de março de 2017

As Sem Abrigo De Lisboa - Mulheres Que Sonham Com Uma Casa


Depoimento de uma mulher sem casa

Tenho 3 irmãs, todas filhas do mesmo pai, eu sou a do meio...a mais nova saiu...depois voltou...depois voltou a sair...mas nunca aceitou a minha mãe, ou seja o meu pai nunca aceitou dar-me o nome, dizia que eu não era filha dele. Depois a vida começou a andar muito para o torto e a minha mãe arranjou um companheiro, depois separou-se dele. Esse companheiro é que me deu o nome, ele não...os meus pais para todos os efeitos...se não fosse ele, por acaso também já faleceu, mas para todos os efeitos ele é o meu pai!...

O meu pai verdadeiro, não sei, se ele vive...não sei nada porque eu não o conheci...só que a minha mãe depois conheceu aquele senhor que me deu o nome. Faleceu e eu fui criada com outra pessoa. Não conheci outros pais a não ser mesmo o que me criou, que não é aquele que me deu o nome...porque como eu não era...

A minha mãe nunca foi feliz, juntou-se...até pelo menos aos 18,19 anos foi ele que me criou...não conheci outro pai a não ser mesmo o que me criou...que não é aquele que me deu o nome.


Ter pai ou não ter tido é a mesma coisa porque ele...como eu não era filha dele dizia para a minha mãe que não tinha nada que me dar nada porque não era meu pai, então a minha mãe nunca conseguiu ser feliz e esteve 15 anos…, ele já começou a ser muito idoso e começou a ter as birras deles como sempre e já não dava para viver com ele, a minha mãe era mal tratada, ela bebia muito...já por fim nós começamos a ter a nossa vida porque era-mos maiores de idade e ele não nos deixava sair para lado nenhum e a gente queria sair com o namorado e ele não deixava e a minha mãe teve mesmo que o pôr fora de casa. A casa era da minha mãe, casa da câmara era da minha mãe e automaticamente ele não tinha o nome na casa...aí as coisas...eu fiquei com a minha mãe, mas as coisas começaram a complicarem-se, a minha irmã tinha um marido que mandava muito, depois queria mandar na minha mãe e em mim e trabalhei no fórum...que era um centro que se trabalhava por conta do centro de emprego, mas era um emprego. Trabalhava todos os dias, todos os dias trabalhava e ao cabo juntava muitos salários activos, só que a minha mãe começou-me a ir buscar esse dinheiro, eles em vez de me darem esse dinheiro a mm davam à minha mãe...tinha uns 18, perto de 18 anos, comecei a trabalhar muito nova...e então resolvi sair de casa porque a minha mãe queria o dinheiro todo para ele e começou a tratar-me muito mal, batia-me, chamava-me nomes...nunca fui feliz...e depois era assim!...


Eu pretendia fazer a minha vida, pretendia casar, pretendia ter um rapaz do meu lado. eu queria namorar e ele não deixava, ele entendia que eu tinha que andar debaixo das saias dela e eu entendia que não...aí, eu conheci um rapaz...conheci um rapaz e depois foi meu marido (não são casados) e comecei a namorar com ele, na altura ele vivia na rua...é um rapaz que vivia nas arcadas do Martin Moniz...dormia na rua, só que depois a minha mãe começou a falar comigo...conheci-o também na rua...estava na rua...por volta dos 18 anos, comecei a ir à sopa dos pobres e conheci-o lá. Falei com ele e convidei-o para ir à festa que havia e ele aceitou, foi comigo...só que depois começou a falar que na rua, não tinha onde dormir, onde comer...e nessa altura eu já estava prestes a ir para casa da minha mãe e a minha mãe aceitou-me, queria que eu fosse lá para casa...depois, falei com a minha mãe e aceitou que ele fosse também, só que depois aí começaram os problemas…a minha irmã andava a dar em cima do meu marido, aí eu comecei a ver...eu trabalhava, trabalhei sempre, sempre, sempre. Quando o meu marido me conheceu, estava a trabalhar no...e a dormir na rua (1 ano) dormia dentro do aeroporto de Lisboa. Tenho lá testemunhas...tomava duche dentro do aeroporto com água fria...nas casas de banho para ir para o trabalho e depois comecei...quando conheci o meu marido...na casa da minha mãe, eu ia trabalhar e ela (irmã) queria que o meu marido ficasse em casa, aí comecei a topar...aí eu fui, lutei, lutei, sempre a lutar para que o meu marido viesse para o pé de mim em Lisboa. Sai de casa da minha mãe e o meu marido veio comigo e começamos novamente a viver dentro do aeroporto em Lisboa, vivíamos dentro de um carro velho dentro do aeroporto...depois acabou o meu contracto na....aquilo fechou e eu fui trabalhar para um hotel...levantar-me do carro no aeroporto. Comecei a trabalhar nesse hotel, só que esse hotel, as portas eram abertas por um problema de eu não saber ler nem escrever...Com cartão, eu queria abrir as portas e não conseguia...então eles mandaram-me embora...aí, comecei a lutar, sempre a lutar junto com o meu marido sempre, a gente estávamos sempre unidos, sempre naquela força, a lutar a lutar...com as assistentes sociais. 

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sexta-feira, 24 de março de 2017

Saudades De Mim

Vou, vou...,sigo, sigo... e de repente, tenho tantas saudades de mim!...
Paro!...admiro-me e quedo-me amorosamente comigo mesma!.., É nessa quietude que me reencontro e me reconheço!..., Fico um pouco mais, mais um pouco ainda!... quedo-me em mim... e depois sigo e sigo e sigo e sigo!...
AMFM
24-3-2017

Trabalho de Mulher

O Cuidar da casa, das crianças, dos mais velhos e das mais velhas, dos e das doentes, etc...., ainda é um trabalho feito maioritariamente por mulheres.

Feito fora da sua casa, da sua família, é pago. Ao longo dos séculos a gestão económica dos estados nunca orçamentou essas imensas horas de trabalho realizado por mulheres. Não seria altura de os orçamentos de estado contemplarem os custos deste trabalho, determinante para o bem estar das sociedades?!

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quarta-feira, 22 de março de 2017

Mulheres Sem Abrigo

Segundo a tipologia europeia desenvolvida pela FEANTSA (Federação Europeia de Associações Que Trabalham Com Sem Abrigo) a qual tem sofrido ajustamentos ao longo dos anos, a população sem abrigo divide-se em quatro grandes grupos que apresentamos em seguida:

· Quem vive na rua;
· Quem não tem alojamento;
· Quem vive em habitação precária e;
· Quem vive em habitação inadequada.

A investigação sobre as mulheres sem abrigo, adoptou na monitorização do fenómeno a definição de sem abrigo, como se tratando da pessoa que não possui residência fixa, pernoita na rua, carros e prédios abandonados, estações de metro ou de comboio, contentores, ou quem recorre a alternativas habitacionais precárias como albergues nocturnos, quartos ou espaços cedidos por familiares ou que se encontra a viver temporariamente em instituições, centros de recuperação, casas de amigos ou amigas, hospitais ou prisões. Em termos mais precisos, a tónica é assente na falta de uma habitação digna e estável.
Ana Maria Ferreira Martins

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quarta-feira, 8 de março de 2017

O Resgate da Sacralidade


O resgate da sacralidade de sermos e de nos reconhecermos como mulheres criadoras e geradoras de toda a vida é a urgência da humanidade terrena
AMFM

Mis-ce-lâ-nea - Dimensão Feminina a Resgatar e Integrar: Homenagem às mulheres

Mis-ce-lâ-nea - Dimensão Feminina a Resgatar e Integrar: Homenagem às mulheres: Esta é a minha homenagem sentida a todas as mulheres que tiveram e têm a coragem de lutarem pelas suas verdades e por si mesmas, l...

Homenagem às mulheres

Esta é a minha homenagem sentida a todas as mulheres que tiveram e têm a coragem de lutarem pelas suas verdades e por si mesmas, lutando desta forma por uma humanidade mais justa e igualitária nas suas diferenças!...
Sou uma mulher que tem lutado a vida toda por encontrar a essência do seu ser. Sou uma mulher em busca de si mesma, em luta contra o poder instituído e cansada de lutar. Virar-me para dentro foi um ato de desistência e de consciência da minha real incapacidade de lutar contra os projectos que os homens tiveram e têm para o mundo onde nasci e vivo. Acabei por integrar a evidência de que não tenho sozinha a capacidade necessária para mudar o exterior de forma a me sentir plenamente integrada nesta dimensão terrena. O fato de ter nascido com a consciência de ser feminina no meu corpo de mulher impediu-me de me deixar aculturar de forma lenta mas eficaz pela cultura dos homens.
Dou graças à Deusa, ao Deus e portanto a mim própria por ter primeiro de uma forma inconsciente e depois de uma forma mais sentida e compreendida parado a tempo o processo tremendamente poderoso que é o da aculturação do ser feminino da alma feminina pela cultura patriarcal, que de uma forma clara e brutal disciplinou, controlou e moldou o comportamento e o pensamento das mulheres aos interesses mais ou menos implícitos dos homens.
Pela força física, pela religião, pela política, controlaram e controlam os comportamentos mas não o ato da criação física, mental e espiritual, é aí portanto que reside a nossa força natural, a que por uma razão ou por outra conseguiu com maior ou menor consciência e dificuldade escapar à malha apertada da teia de controlo que teceram à dimensão feminina da humanidade.
O inconsciente é aí que reside a maior parte das nossas emoções e intuições, é aí que temos que procurar-nos, tornar consciente o que nos foi roubado, desvalorizado, ridicularizado de forma óbvia e visível, embora invejado por desconhecido e por ausência, por séculos e séculos de escravidão.
A.M.F.M






https://www.noticiasaominuto.com/pais/753475/violencia-domestica-e-motor-que-atira-mulheres-para-situacao-sem-abrigo

quinta-feira, 2 de março de 2017

Muitas vezes imaginamos como é ser uma pessoa sem abrigo. Para a grande maioria de nós esse dia nunca vai chegar, mas as suas histórias mostram bem que o limiar entre estar e ser sem abrigo é muito ténue. Se alguma vez esteve sem abrigo percebeu esse limiar e certamente recuou perante o olhar triste e conformado dos seres humanos que pela fatalidade de uma vida cheia de profundas percas se veem nessa dramática vivência.
As mulheres que por natureza são mais intensas nos sentires, sofrem duplamente com esta dura realidade. Às mulheres sem abrigo foi-lhes retirada a possibilidade de realizar o sonho para o qual a sociedade as acultura desde crianças, deixaram para trás o sonho de um lar, de uma família reunida num espaço acolhedor, limpo, confortável e seguro, onde se possam encontrar com a saúde, com a felicidade e o amor com que todos os seres humanos sonham e acreditam.

Biografia

Apaixonada e nascida por terras algarvias é em Almada e Lisboa que se sente em casa.Ser mãe foi determinante na forma como sentiu a vida. O olhar interessado pelos fenómenos das pessoas sem abrigo e das questões da igualdade de género  são inequivocamente o seu foco de vida. Assistente Social de formação, exerce funções como Directora Nacional da Ação Social Da AMI, desde 2000. Mestre em Estudos Sobre As Mulheres, inter-relacionou o fenómeno das pessoas sem abrigo com as questões de género surgindo a sua tese de mestrado: As Sem Abrigo De Lisboa, premiada com o prémio Madalena Barbosa da Comissão da Igualdade de Género.Publica a nível nacional e europeu, artigos relacionados com as pessoas sem abrigo e com as questões da igualdade de género. É comentadora em vários meios de comunicação social.Professora Universitária no Instituto Piaget. Formadora acreditada na área comportamental, pobreza, serviço social, investigação e género. Autora do blogue, Mis-ce-lâ-nea, janela que abriu de dentro para fora de si
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