sábado, 5 de janeiro de 2019

Os Murmúrios Da Libertação da Mulher


Os Murmúrios Da Libertação Da Mulher


Alguns, poucos homens têm-se identificado e aliado de uma forma consciente com a luta das mulheres pelos seus direitos, numa sociedade fortemente masculinizada e tremendamente injusta a que as mulheres têm de forma violenta e inconsciente sido sujeitas, e têm, através da alteração de comportamentos e actualização das leis que regem as sociedades, facilitado o acesso das mulheres a algumas dimensões da vida humana que foram inexplicavelmente vedadas às mulheres!.. como por exemplo, viajarem sozinhas sem terem que ter a autorização do marido, pai ou irmão, consoante a situação da mulher, poderem receber os seus salários sem intermediários, não permitir que legalmente os maridos lhes batam, poderem casar com homens com um salário mais baixo que o delas, poderem frequentar a faculdade e até votar, e muitas outras práticas que subjugavam a mulher ao homem!.... 


Os murmúrios da pertença libertação da mulher do poder que o homem exerce sobre ela, é real, mas sempre balizado e enquadrado sob determinados limites!... A sociedade de forma demagógica e poderei mesmo dizer, hipócrita, aceita e até fomenta movimentos pró-libertação, pró-igualdade das mulheres, contudo não é através de leis ou documentos, por muito bem escritos, impressos e intencionados que sejam por parte de quem os discutiu e concebeu que os comportamentos e as matrizes ideológicas, mentais se alteram. Há toda uma revolução por fazer, talvez a maior desde que a humanidade se tornou escrava da enaltecida masculinidade em detrimento da desvalorizada e esmagada feminilidade. A revolução ao nível da essência dos seres humanos, da verdade humana.


A luta das mulheres por se tornarem à sua maneira, participantes activas na sociedade onde nasceram, é uma verdade irrefutável que as alterações às leis, no sentido da pertença igualdade de género só tem existido devido à pressão de alguns homens sobre o poder dominante do patriarcado, pois as mulheres eram inexistentes neste circulo de poderosas marcantes e influentes individualidades, que sempre povoaram as páginas da história mundial nos últimos 2.500 anos.



As generalizações são perigosas, mas ainda mais perigoso é fazer tábua rasa das minorias ou das maiorias deliberada ou obrigatoriamente silenciadas como é o caso da situação das mulheres no decorrer duma civilização da carácter falocrático e patriarcal. 



O porquê desta situação, é um assunto que me tem corroído a existência desde que tendo nascido mulher percebi que por algum incompreensível motivo não tinha os mesmos direitos adquiridos que os homens para decidir o que entendo como melhor para mim enquanto pessoa e mulher.

Compreendi que se quisesse ocupar um espaço fora de casa, no mundo do trabalho, do lazer, teria que ser forte, para me misturar nos espaços físicos e psicológicos deles, enfim teria que me tornar um super ser humano, não me bastaria ser mulher, se me queria integrar na sociedade que se me apresentou pela frente e alcançar a liberdade financeira e alguma liberdade de ser, teria que aprender rapidamente as regras do mundo masculino. Assim fiz!... 

Identificar de forma consciente e gerir estas variáveis, foi e ainda é, uma tarefa árdua que exige um grande dispêndio de energias!... Energias essas que vão reduzir a nossa natural força de ser e de nos manifestarmos tal e qual somos, sem um modelo que permanentemente nos reconduz e alinha com um lugar de back stage e de invisibilidade.

Os homens e também muitas mulheres aculturadas pelo modelo masculino, afirmam e aparentemente acreditam, que já não faz sentido falar de homens e mulheres, de linguagem inclusiva, de direitos, libertação das mulheres, pois está escrito e é verbalizado que os direitos são iguais e defendidos de forma universal pela constituição da república portuguesa, assim como de muitos outros países do mundo.


Há mulheres que ficam ofendidas e incomodadas quando se fala de forma clara nas evidentes diferenças comportamentais, existentes entre homens e mulheres, na família, no trabalho, nas reuniões sociais e viram as costas a quem as confronta com esta realidade, na tentativa vã de evitar o conflito aberto com os homens com quem diariamente se relacionam a quem geralmente consciente ou inconsciente tentam agradar. A verdade gera sempre conflito, quando colide com as nossas expectativas, com os nossos ideais que a mesma não legitima, antes pelo contrário, confronta-nos com as diferenças entre o ideal que nos querem fazer crer que é real e o quotidiano das acções e dos factos. 

O maior conflito das mulheres é interno. Criadas por um modelo que tem por base servir e agradar ao homem, em casa, no trabalho, na realidade este modelo inconsciente, rege as cabeças das mulheres onde quer que elas se encontrem, criando um desalinhamento interno entre o que realmente são e o que a sociedade comandada pelo homens espera e exige que elas sejam!...

Apesar deste enquadramento teórico/prático, fui esforçando-me por me mover de uma forma alinhada de acordo com os meus interesses internos. Ser mulher plena num mundo de homens. Nunca abdiquei das minhas ideias, fui aprofundando através do estudo e de amizades o saber e o sentir sobre o ser mulher e feminina. 

Com esta maior facilidade em inter-agir com um mundo real, que apesar de estar na génese da sua concepção, lhes é estranho e hostil, as mulheres destes tempos romperam com as barreiras intelectuais e físicas impostas pelo modelo vigente.

O risco, da aculturação do modelo masculino pelas mulheres,  aspecto já anteriormente referido, é uma realidade com que temos que viver!... pois só com uma grande vontade e propósito em desenvolver uma consciência ontológica do verdadeiro significado de ser mulher no feminino, é que a mulher actual poderá evoluir na direcção da sua feminilidade, da sua essência e da sua verdade.

Isto implica  romper tanto quanto lhe seja possível com as tremendas correntes que a agrilhoam à doutrina patriarcal o que inevitavelmente compreenderá um grande esforço e sofrimento psicológico e intelectual com as inerentes consequências na sua saúde física.

AMFM
In "Mulher Plena Num Mundo De Homens"
5-1-2019


quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A DOR DA CRIAÇÃO


A dor da criação 
Vestem-se de cinzento e branco, às vezes preto, não têm a maternidade como prioridade nas suas vidas, o sonho é o sucesso profissional de acordo com a definição de sucesso que o mundo dos homens estabeleceram para eles e que elas aceitaram como igualitário e portanto desejável.

Os filhos só surgem depois de materializadas algumas das muitas condições económicas instituídas pela sociedade capitalista para que a mulher disponibilize o seu corpo e mente para a maternidade.

O mundo do trabalho idealizado pelos e para os homens não encaixa na natureza feminina. A partir do momento que a mulher entrou em competição com o homem num mundo que lhe era estranho a maternidade por ser um atributo ausente do mundo masculino, passou a ser relegada pelas sociedades capitalistas para uma invisibilidade no espaço e no tempo. É vista como algo que já que tem que ser, seja!..., mas que seja rápida e não traga muitos transtornos ao normal funcionamento do mundo do trabalho dos homens.

Homens e mulheres em situação de chefia ou de poder tratam a mulher grávida como um ser de segunda que não se encontra em condições plenas de competir no mundo de trabalho de igual para igual e portanto este momento em que a criação, a gestação eu diria mesmo que o divino se manifesta na crosta terrestre é vivido pela mulher e pelo homem como algo inevitável do qual não puderam fugir, pois ambos têm esse desejo de reprodução entranhado por debaixo dos fatos cinzentos, impossível de fugir. 


Frequentemente acontece ser o próprio homem que direta ou indiretamente faz pressão sobre a mulher profissional para ter filhos e esta acaba por abdicar, por uns tempos da sua carreira do seu sucesso profissional, para satisfazer um desejo do seu companheiro, muitas vezes vejo mulheres a dizer que não está na altura, não é o momento adequado, percebendo antecipadamente o quão duro será para ela conjugar a vinda de um novo ser ao mundo e a sua ambição, o seu desejo de provar a si própria que é tão boa como o homem na empresa em que trabalha. Assim e neste contexto da vinda de um novo ser ao mundo a mulher acaba por ficar dividida interna e externamente, gerando a maternidade um sentimento de ambivalência que vai tornando-se cada vez mais difícil de gerir.

O mundo do trabalho e o caminho que as sociedades mercantilizadas seguem não deixa espaço para a mulher mãe. A maternidade passou a ser vista como algo secundário na vida das famílias. O trabalho fora de casa, lado a lado com os homens é colocado na dianteira da dignificação da mulher. Não raro é ver ridicularizada e desvalorizada a mulher que por opção decide priorizar a maternidade em detrimento da sua profissão fora de casa. Essa mulher é hoje em dia incompreendida e desvalorizada pelos seus pares e pelos homens, que a vêm como uma tonta sem capacidades intelectuais de integrar o mundo do trabalho no modelo masculino imposto.

As mulheres quando se integraram no mundo do trabalho masculino, não encontraram espaço de tempo físico ou psicológico para algo que lhe é inerente pela sua natureza e absolutamente necessário para a criação da humanidade.

O gerar filhos para as mulheres, que são cada vez mais masculinizadas, deixou de ter espaço nas suas mais longas vidas. A concepção é vista e sentida como algo que dificulta e retira o tempo necessário para o sucesso profissional e a um suposto bem estar associado à condição masculina.

A dor de dar à luz, os vómitos da gravidez, o incómodo do ciclo menstrual, todas elas expressões do feminino mais essencial, da sua dimensão sagrada e criadora da humanidade. Vistos à luz do olhar masculino são vistos como meras manifestações que causam transtorno à mulher assim como quem vive ao seu redor. São expressões vividas coo o sentimentos de que todo(a)s nos livraríamos delas se pudéssemos, pois são geradoras de mal estar.

Sim, no mundo masculino não há espaço temporal ou mesmo psicológico para a concepção criativa, para a génese e deste modo estas são expressões humanas, ou mais propriamente, femininas, inexistentes e ou marginalizados pelas sociedades que vivem focalizadas na produtividade que a industrialização e posteriormente o capitalismo nos remete. 

A criação, a gestação, pertence à dimensão feminina, vista por algumas pessoas como privilégio e entendido por outras como uma vulgar, “chatice”!...

Não é possível dividir a humanidade entre homens e mulheres, só pelo seu sexo, pois a aculturação patriarcal nivelou pensamentos, comportamentos, culturas que seriam de âmbito próprio, interno e diferenciador de cada sexo, dominantemente no feminino ou no masculino.

A dor profunda que pressentimos pela vida fora, nasce e morre connosco, é uma prenda que temos que carregar na nossa vida!... Render-mo-nos a ela?...nunca!...pois junto e com ela está o amor. A nossa incapacidade de o atingir na plenitude é o que nos provoca esta uma dor profunda. Saudades de algo que sabemos existir, que conhecemos, mas que não reconhecemos nesta vivência humana... 
A.M.F.M.


































sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Seminário: O Impacto da Pobreza no Tecido Social - AMI






Com o objetivo de analisar diversos desafios e perspetivar novos olhares sobre o fenómeno da pobreza, pretende-se, com esta iniciativa, proporcionar um momento de reflexão participado, estruturado em quatro painéis, designadamente,


“Pobreza: Ancestralidade versus Atualidade”,

“Novas tecnologias – Robotização versus Inclusão Social”,

“Modelo Habitacional versus Situação de Pobreza” e

“O Papel da Inovação Social no Paradigma da Pobreza”.
Programa e mais informações em

https://ami.org.pt/blog/seminario-o-impacto-da-pobreza-no-tecido-social/

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Entre o Sono e o Sonho - Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea


Entre o Sono e o Sonho - Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea - Chiado Editora

Mais uma vez a Chiado Editora seleccionou para fazer parte de uma Antologia de Poesia, uma pequena reflexão que fiz sobre a existência humana

"Antes de mais, agradeço o envio do seu poema para constar na Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea “Entre o Sono e o Sonho” - Volume X, da Chiado Books.

Após a análise do mesmo por parte do antólogo Gonçalo Martins, tenho o prazer de informar que o seu poema foi seleccionado e será inserido na nossa Antologia.O lançamento da mesma, decorrerá no dia 21 de Outubro, Domingo, no Grande Auditório do Convento São Francisco em Coimbra, pelas 14:30."








A vida plena de significados sem consciência

Que consciência temos do verdadeiro sentido desta vida?
Se a morte e a vida são o contorno de uma mesma e diluída verdade,
como encontrar a substância da qual a vida de sangue e lágrimas se alimenta?

A dualidade dos opostos une-se numa inexistência inexprimível!...

Cada passo que cuidadosa e silenciosamente damos em direcção à consciência da vida,
 torna-se um trovão da alma que nos leva num rodopio incessante de dúvidas e mais dúvidas,
 que acabam por se diluir no éter do nada, no vazio de uma ausência, de uma ausência de consciência.

A vida e a morte são a mesma face de um ténue contorno de uma existência terrena que bem sentida,
sabemos que é inexistente, se meramente compreendida pelo que somos neste contexto terreno.
Quero ser algo que não existe, só porque assim poderei, quem sabe, atingir uma vaga e imperceptível consciência.
Brumas e mais brumas que nos impedem de caminhar…
Andamos em círculos fechados.
Círculos perpétuos de vida e morte!...
Sim, somos uma humanidade eternamente às voltas no deserto…

Ana Maria Ferreira Martins