segunda-feira, 4 de março de 2019

A Nossa Mãe



A relação com a nossa mãe é internamente mal resolvida.



Mulheres divididas na sua essência pelo modelo patriarcal, ou se tornam mulheres revoltadas ou mulheres completamente aculturadas pelo modelo dominante que tendem a viver numa zona de conforto criada artificialmente para elas e ou por elas, perfeitamente enquadrada nas regras religiosas, culturais e nas espectativas masculinas para a sociedade em geral e para o feminino em particular.


As mães terrenas frustradas, as que sempre contestaram o poder do marido, do pai e também da mãe que compactuou com o poder patriarcal. Revoltadas, nunca fizeram as pazes com as suas mães e nunca em consciência entenderão o porquê!… Esta falta de consciência cria-lhes um inevitável e irremediável mal estar, que na maioria dos casos transportam consigo de vida em vida. Podemos mesmo falar de um feminino enclausurado.

Todas as mães terrenas têm um misto de amor e ódio pelas suas filhas e por si próprias. Amor porque são parte delas, vendo-se através das mesmas reflectidas num já velho e gasto espelho.

Ódio, porque não se conseguem libertar dos grilhões patriarcais e percebem que também as suas filhas não reúnem as forças necessárias para o fazer, apesar das modernidades apregoadas.

Ana Maria Ferreira Martins

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

A Grande Ratoeira do século XX – A Emancipação da Mulher

Partilho um texto que faz parte do livro "Mulher Plena Num Universo de Homens"

A Grande Ratoeira do século XX – A Emancipação da Mulher

Aparecem cada vez mais mulheres a denunciar a grande armadilha do século XX e XXI no mundo Ocidental, a da igualdade de género.
A grande ratoeira a que se chamou emancipação da mulher, reside no fato de a mulher reivindicar o estatuto de igualdade ou mesmo de igualdade de oportunidades que os homens, trata-se de dar um passo para dentro do mundo milenar construído por e para homens e que portanto inviabiliza a competição em igualdade de circunstâncias e a realização plena de metade da humanidade que em vez de procurar o seu próprio e natural caminho e lutar por ele, gasta energias a lutar por pertencer a um mundo concebido por e para homens. A premissa está errada desde o princípio.

As mulheres estão carimbadas, como os cavalos a ferro e fogo com a marca do patriarcado. De forma imperceptível para quem anda menos atento ou atenta, mas possivelmente para sempre no futuro da humanidade tal e qual a conhecemos.
Querem maior forma de escravidão?
A grande questão é a de como a mulher permite isto?
Que necessidade de controlar tudo o que é a essência do feminino é esta?
Que mistério reside escondido neste manto negro que colocaram na vida das mulheres, impedindo-as de ser elas próprias, com o seu saber, com os seus desejos, emoções, intuições, em suma, com a sua essência?

As mulheres depois de séculos de aculturação pelo modelo patriarcal, não lutam por ser elas próprias na sua especificidade de ser mulher, mas sim para serem iguais ou para terem acesso às mesmas oportunidades que os homens.

Emancipação da mulher? A mulher para além do que era, acumula do papel ancestral de cuidar, passou a ser uma cópia travestida do homem. A mulher quer provar que é capaz de encontrar a sua essência sem deixar de ser a mulher que o homem deseja, a mãe esmerada e a profissional duplamente melhor que qualquer homem.

Depois de afastadas da sua essência feminina elas não querem saber delas próprias, elas sonham, sem disso terem consciência, em serem homens, em terem as mesmas profissões, os mesmos carros, as mesmas faculdades, se possível não engravidarem, enfim, terem acesso livre aos ideais instituídos, veiculados, pelo poder dominante.

Idealmente seriam mulheres com mamas, mas sem útero. Mamas para agradar aos homens e sem útero porque isso impede-as de concorrer em plano de igualdade com os mesmos no que se refere ao emprego e a outras actividades em que a maternidade as afasta dessa tão desejada igualdade.

Não poderia ser de outra forma, pois o produto final da prática patriarcal foi a construção de mulheres feitas à imagem dos desejos e ideais masculinos. É difícil para as mulheres que se querem vislumbrar para além do véu escuro criado pela cultura patriarcal, a mulher, despida dos valores, ideais e expectativas que o poder dominantemente dos homens lhe impôs durante séculos e séculos.


Sobre o feminismo refere Natália Correia:

“É certo que o feminismo, concebido como caricatura dos privilégios viris, foi uma traição feita à mulher. Traição porventura involuntariamente cometida pelos campeões do feminismo, que doutrinariamente ou legalmente lhe deram acesso a uma cultura vinculadamente masculina, na qual a produção feminina resultaria sempre inferior. Dessa rasteira de falsa promoção, que os paladinos do feminismo passaram à mulher, poder-se-á talvez dizer, em abono destes, que das suas boas intenções conscientes se fizeram obscuras aliadas as defesas inconscientes do varão. O resultado da emancipação feminina processada por essa via é elucidativo: quer na América que, por razões históricas, teve que atender à situação privilegiada da mulher basicamente inserida nas formas nucleares da sociedade americana, quer na Rússia que, por motivos ideológicos e sócio-políticos, foi forçada a admitir a produtividade feminina, as máquinas da administração e da cultura são manejadas por homens, sendo a mulher o mero instrumento de uma sociedade rigorosamente orientada por critérios masculinos.
Traição é a palavra que com mais propriedade define um jogo em que a batota é evidente. Porque, se na sociedade regida pelas velhas normas patriarcais, a mulher beneficiava do prestigio romântico e erótico que lhe advinha da influência que exercia nos bastidores da política e da cultura, uma vez lançada na arena da competição com o homem, não só se apagou o facho do seu domínio subtil, como teve de revelar-se inferior num plano de acção estruturado pelo homem e que da intima essência deste recebe o carácter. “ 

Natália Correia, in Introdução, Cultura feminina, G.Simmel, pág.16

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Carta de amor?

Uma carta de amor que escrevi a pedido da Chiado Editora

"Cara Maria,

Ficamos bastante agradecidos pelo envio do seu trabalho para constar no Volume II da Colectânea de Cartas de Amor, da Chiado Books." Depois de o analisarmos, informamos que o mesmo foi seleccionado."

Carta de Amor?




Se possibilidade houvesse nesta vida terrena de sentires a intensidade do amor que nutro por ti!...

Se soubesses das noites que não durmo tentando perscrutar no infinito da escuridão a tua mão, o teu aconchego, o teu colo!....

Se tu soubesses a saudade que habita este meu corpo desaurido do teu amor pleno de ti e de mim!...

Como te fazer chegar esta carta se tu não reconheces a simbologia de uma linguagem escrita? como te chegar meu amor?!

Diz-me por sinais desconhecidos a forma de te fazer sentir esta carta!...envia-me luzinhas, estrelinhas, pode até ser smiles através de uma qualquer rede social, mas dá-me um sinal que este amor imenso que me transcende desconhecendo a forma de o segurar ou limitar a este quadrado que conheço tão bem!...

Ajuda-me, querida, ajuda-me a fundir-me em ti, esquecendo-me de quem sou. Só te quero sentir, ou me sentir em ti.

Desejo-te como a mim própria, quero-te noite e dia, preciso de ti, sem ti não há vida, não há amor, não há EU.

Diz-me como te hei-de fazer chegar esta mensagem...por carta? por telefone? por internet? por pensamento?

Aguardo resposta e não te esqueças que sem te sentir, meu amor, a minha vida não tem existência!
Amo-te Muito!...
2019-1-18

sábado, 5 de janeiro de 2019

Os Murmúrios Da Libertação da Mulher


Os Murmúrios Da Libertação Da Mulher


Alguns, poucos homens têm-se identificado e aliado de uma forma consciente com a luta das mulheres pelos seus direitos, numa sociedade fortemente masculinizada e tremendamente injusta a que as mulheres têm de forma violenta e inconsciente sido sujeitas, e têm, através da alteração de comportamentos e actualização das leis que regem as sociedades, facilitado o acesso das mulheres a algumas dimensões da vida humana que foram inexplicavelmente vedadas às mulheres!.. como por exemplo, viajarem sozinhas sem terem que ter a autorização do marido, pai ou irmão, consoante a situação da mulher, poderem receber os seus salários sem intermediários, não permitir que legalmente os maridos lhes batam, poderem casar com homens com um salário mais baixo que o delas, poderem frequentar a faculdade e até votar, e muitas outras práticas que subjugavam a mulher ao homem!.... 


Os murmúrios da pertença libertação da mulher do poder que o homem exerce sobre ela, é real, mas sempre balizado e enquadrado sob determinados limites!... A sociedade de forma demagógica e poderei mesmo dizer, hipócrita, aceita e até fomenta movimentos pró-libertação, pró-igualdade das mulheres, contudo não é através de leis ou documentos, por muito bem escritos, impressos e intencionados que sejam por parte de quem os discutiu e concebeu que os comportamentos e as matrizes ideológicas, mentais se alteram. Há toda uma revolução por fazer, talvez a maior desde que a humanidade se tornou escrava da enaltecida masculinidade em detrimento da desvalorizada e esmagada feminilidade. A revolução ao nível da essência dos seres humanos, da verdade humana.


A luta das mulheres por se tornarem à sua maneira, participantes activas na sociedade onde nasceram, é uma verdade irrefutável que as alterações às leis, no sentido da pertença igualdade de género só tem existido devido à pressão de alguns homens sobre o poder dominante do patriarcado, pois as mulheres eram inexistentes neste circulo de poderosas marcantes e influentes individualidades, que sempre povoaram as páginas da história mundial nos últimos 2.500 anos.



As generalizações são perigosas, mas ainda mais perigoso é fazer tábua rasa das minorias ou das maiorias deliberada ou obrigatoriamente silenciadas como é o caso da situação das mulheres no decorrer duma civilização da carácter falocrático e patriarcal. 



O porquê desta situação, é um assunto que me tem corroído a existência desde que tendo nascido mulher percebi que por algum incompreensível motivo não tinha os mesmos direitos adquiridos que os homens para decidir o que entendo como melhor para mim enquanto pessoa e mulher.

Compreendi que se quisesse ocupar um espaço fora de casa, no mundo do trabalho, do lazer, teria que ser forte, para me misturar nos espaços físicos e psicológicos deles, enfim teria que me tornar um super ser humano, não me bastaria ser mulher, se me queria integrar na sociedade que se me apresentou pela frente e alcançar a liberdade financeira e alguma liberdade de ser, teria que aprender rapidamente as regras do mundo masculino. Assim fiz!... 

Identificar de forma consciente e gerir estas variáveis, foi e ainda é, uma tarefa árdua que exige um grande dispêndio de energias!... Energias essas que vão reduzir a nossa natural força de ser e de nos manifestarmos tal e qual somos, sem um modelo que permanentemente nos reconduz e alinha com um lugar de back stage e de invisibilidade.

Os homens e também muitas mulheres aculturadas pelo modelo masculino, afirmam e aparentemente acreditam, que já não faz sentido falar de homens e mulheres, de linguagem inclusiva, de direitos, libertação das mulheres, pois está escrito e é verbalizado que os direitos são iguais e defendidos de forma universal pela constituição da república portuguesa, assim como de muitos outros países do mundo.


Há mulheres que ficam ofendidas e incomodadas quando se fala de forma clara nas evidentes diferenças comportamentais, existentes entre homens e mulheres, na família, no trabalho, nas reuniões sociais e viram as costas a quem as confronta com esta realidade, na tentativa vã de evitar o conflito aberto com os homens com quem diariamente se relacionam a quem geralmente consciente ou inconsciente tentam agradar. A verdade gera sempre conflito, quando colide com as nossas expectativas, com os nossos ideais que a mesma não legitima, antes pelo contrário, confronta-nos com as diferenças entre o ideal que nos querem fazer crer que é real e o quotidiano das acções e dos factos. 

O maior conflito das mulheres é interno. Criadas por um modelo que tem por base servir e agradar ao homem, em casa, no trabalho, na realidade este modelo inconsciente, rege as cabeças das mulheres onde quer que elas se encontrem, criando um desalinhamento interno entre o que realmente são e o que a sociedade comandada pelo homens espera e exige que elas sejam!...

Apesar deste enquadramento teórico/prático, fui esforçando-me por me mover de uma forma alinhada de acordo com os meus interesses internos. Ser mulher plena num mundo de homens. Nunca abdiquei das minhas ideias, fui aprofundando através do estudo e de amizades o saber e o sentir sobre o ser mulher e feminina. 

Com esta maior facilidade em inter-agir com um mundo real, que apesar de estar na génese da sua concepção, lhes é estranho e hostil, as mulheres destes tempos romperam com as barreiras intelectuais e físicas impostas pelo modelo vigente.

O risco, da aculturação do modelo masculino pelas mulheres,  aspecto já anteriormente referido, é uma realidade com que temos que viver!... pois só com uma grande vontade e propósito em desenvolver uma consciência ontológica do verdadeiro significado de ser mulher no feminino, é que a mulher actual poderá evoluir na direcção da sua feminilidade, da sua essência e da sua verdade.

Isto implica  romper tanto quanto lhe seja possível com as tremendas correntes que a agrilhoam à doutrina patriarcal o que inevitavelmente compreenderá um grande esforço e sofrimento psicológico e intelectual com as inerentes consequências na sua saúde física.

AMFM
In "Mulher Plena Num Mundo De Homens"
5-1-2019